- Hoje eu só
quero me divertir neném – foi à resposta – você é tão bonita sabe? Ah e eu sei
que você não tem namorado.
- Não por
favor – a mãe dele implorando.
Levantou-se
repentinamente e procurou pelo bastão de basebol mesmo no escuro ele deixava
sempre em mãos, a casa ficava um pouco afastada do resto das demais de modo que
os gritos só seriam ouvidos se fossem bem altos, com todo cuidado abriu a porta
para não fazer barulho e saiu para o corredor, à luz do quarto de sua mãe
estava acessa, pé ante pé ele se aproximou, espiou pela porta entre aberta,
tinha um sujeito em cima da cama tapando a boca de Cláudia, sua mãe.
- Shhhhiu, não
queremos atrair mais atenção não é? – o sujeito colocou um machado pequeno do
lado da cama.
Ele era alto e
corpulento, seu cabelo era um moicano alto e com as pontas avermelhadas, atrás
da orelha saia uma trança azul que chegava a altura dos ombros, tomado por um
impulso de coragem Jefferson pulou para dentro do quarto munido de seu bastão
de basebol e se lançou para cima do bandido, o bastão atingiu as costas do
meliante, mas não foi forte o suficiente, ele somente saiu de cima de Cláudia e
pegou o machado.
- Parece que
não estamos sozinhos não é?
- Não faça
nada pra ele, eu faço tudo o que você quiser tudo – Cláudia estava desesperada.
- Calma bebe
nós já vamos nos divertir.
Jefferson
avançou novamente, mas o homem era muito maior e mais forte que ele e parou o
golpe com o braço, dando uma cabeçada no rosto de Jefferson, e com a parte sem
fio no machado atingiu a nuca dele, tudo escureceu e ele sentiu sangue
escorrendo de sua cabeça, caiu no chão paralisado, em alguns segundo muito tonto
à visão voltou embaçada e vermelha de sangue, mas isso foi tudo, ele não teve
forças para se levantar e quando tentou levou um chute no rosto que o lançou
longe, e desligou totalmente seus sentidos.
Acordou no
outro dia, com muitas dores de cabeça, o chão estava tão ensanguentado, só de
encostar em sua nuca sentiu uma dor alucinante que pareceu percorrer seu corpo
todo, ele estava no corredor de sua casa pelo que pode ver com os olhos
anuviados, seu primeiro impulso foi tentar levantar-se e ir até o quarto de sua
mãe, mas lembrou do que acontecera instantes atrás, o sol começava a entrar
pela janela da sala, e ele percebeu que estava tudo bagunçado, a televisão não
estava mais lá, nem o rádio, o vídeo game também sumira, mas o telefone ainda
estava lá, foi isso o que ele fez, cambaleou até o telefone e discou para o
numero de emergência, mas as palavras se embaralhavam em sua cabeça.
- Qual a
emergência? – disse uma voz feminina do outro da linha
- Ouve uma
invasão em minha casa esta noite- disse ele tentando colocar os pensamentos em
ordem – eu levei uma pancada e desmaiei antes de conseguir pedir ajuda, venha rápido
por favor, ele estava em cima de minha mãe, com um machado nas mãos.
- Tenha calma
– pediu a atendente – estamos mandando uma viatura e uma ambulância, a sua mãe
esta bem?
- Eu não sei-
respondeu Jefferson fazendo uma pausa – ainda não tive coragem para entrar no
quarto dela, mas eu estou com um ferimento na cabeça e meio tonto.
- O endereço é
este cadastrado na sua linha? Confirme por favor.
- É este
mesmo, por favor venha rápido.
- Já tem uma
unidade em deslocamento para o local, por favor mantenha a calma, pode
continuar na linha se quiser.
- Não é
necessário, eu preciso sentar e tentar me acalmar, fumar um cigarro, e esperar
ajuda.
- Como queira,
as unidades já estão a caminho, qualquer outra informação pode nos ligar.
Jefferson
desligou o telefone e olhou ao redor, a porta da geladeira estava aberta, mas
não ter alimento nenhum, ele queria entrar no quarto de sua mãe mas faltou
coragem, Jefferson fumava desde os 14 anos de idade e agora com 16 aquilo já
era rotina, seu quarto estava intacto a não ser pelas manchas de sangue que ele
deixou ao se apoiar pelas paredes cambaleante, o mundo todo parecia girar, só
depois de acender um cigarro e dar uma tragada foi que teve coragem de abrir o
entrar no quarto de sua mãe, era somente os dois naquela casa desde que Douglas
seu pai tinha morrido dois anos atrás em um acidente de carro, ele e Cláudia
escaparam por pouco.
Ao entrar pelo
quarto o que vira o deixou em estado de choque, o quarto estava todo
ensanguentado, e o sangue era de sua mãe caída ao chão totalmente mutilada,
suas roupas de dormir rasgadas, mas o olhar morto dela pareceu alcançar a alma
de Jefferson, o criminoso havia sido bárbaro, cortara um dos braços de sua mãe,
provavelmente a machadadas, e tinha muitos machucados em um dos seus seios,
entre as pernas só se via sangue, a calcinha que ela usava estava jogada em um
canto rasgada como quase todo o resto do vestuário. Jefferson saiu do quarto
com ânsia de vomito, no momento que ouvia as sirenes que chegavam, maldita casa
afastada, os vizinhos mais próximos ficavam a mais de dois quilômetros de
distancia, nunca ninguém ouviria os gritos de socorro que com toda certeza o
desespero a fez gritar, mas por que ele fora poupado? Ou talvez o criminoso
acha-se que ele esta morto. Não importava ele estava mais que vivo, e aos
poucos os sentidos foram voltando quando os policiais invadiram a casa, com um
médico entre eles.
- temos um
garoto com não mais de 18 anos no local precisando de cuidados médicos - Disse um policial com arma na mão – tirem ele
daqui.
Ao ser
escoltado para fora de casa viu manchas de sangue pela sacada de sua casa, e o
machado usado pelo bandido jogado em um canto no jardim, foi escoltado até a ambulância
enquanto uma medica foi cuidar dos seus ferimentos, ele teve de ser
encaminhando para atendimento em um hospital próximo, e foi tudo por aquele
dia, ele fora dopado, e apagou a caminho do hospital.
O inicio
Abriu os olhos
e viu tudo branco “será que estou morto”
foi o primeiro pensamento que veio a sua cabeça, ao tentar se mexer sentiu uma
dor latejar o seu corpo todo, aos poucos sua visão foi voltando, escutava
muitas coisas ao seu redor, quando alguém abriu a porta do quarto entrou.
- Ele esta
consciente, mas não tente forçar muito suas memorias.
- Tudo bem
doutora, só precisamos saber alguns detalhes a mais e já vamos, voltaremos
quando ele estiver melhor.
- Bom dia
Jefferson, como esta se sentindo?
- Péssimo,
parece que fui atropelado por um caminhão que carrega outros 40 caminhões, o
que aconteceu?
- Vamos com
calma rapaz, seu nome é Jefferson correto?
- Sim
- Tem 16 anos?
- Sim completo
17 mês que vem acho, por quanto tempo eu dormi?
- Não dormiu,
você levou uma pancada muito forte na cabeça, ficou anestesiado por dois dias,
mas os médicos disseram que você vai se recuperar, estas são as boas noticias.
- Sim as más
noticias eu já sei, eu vi antes de vocês chegarem na minha casa, minha mãe não
sobrevivei não é? – queria passar força na voz, mas foi traído pelas lágrimas
em seus olhos
- Eu sinto
muito – Foi tudo o que o oficial disse – Ela já estava morta quando chegamos,
você acha que esta em condições de nos falar como era o invasor? Para que comecemos
a investigar?
- Claro, nunca
me senti melhor senhor – Mentiu para si mesmo e para o policial.
- Tudo bem
então, eu vou buscar o desenhista, dentro de meia hora estarei de volta, tente
descansar e lembrar de quantos detalhes conseguir lembrar ok?
- Tudo bem.
O oficial o
deixou perdido em seus pensamentos mas dentro de meia hora ou um pouco mais
retornou com o desenhista, Jefferson estava sentado na cama tomando agua quando
eles adentraram pela porta. Sentia-se um pouco tonto ainda mas estava pronto
para descrever o que se lembrava do acontecido.
- Você viu a
face do agressor? – foi à primeira pergunta.
- vi sim, por
pouco tempo mais vi, ele é branco e tinha uma cicatriz não sei dizer bem se no
lado esquerdo ou direito do rosto, estou confuso agora – concluiu tocando a
bandagem que estava em sua cabeça.
- e quanto à
altura pode nos dizer?
- bom ele não
parecia ser tão maior que eu, eu tenho 1,74 talvez ele tenha 1,80 por ai, era
bem forte e corpulento, me acertou com o machado na cabeça, mas não com a
ponta.
- É pode se
dizer que você teve sorte nisso.
- o nariz dele
era grande e feio acho que adunco é a palavra mais certa.
- esta certo e
o cabelo como era?
- seu cabelo
era um moicano alto e com as pontas avermelhadas, atrás da orelha saia uma
trança azul que chegava a altura dos ombros, isso é tudo o que me lembro, e de
minha mãe implorando para que ele não fizesse nada – as lágrimas vieram sem
serem solicitadas.
- Bom já temos
o que precisamos pra começar as investigações, tem outra mulher pra falar com
você, ela é da assistência social.
- Obrigado
Senhor.
Voltou a
deitar-se e esperar para responder por mais um monte de perguntas. Naquele
momento entrou uma moça que não aparentava ter mais de 24 anos de idade,
Jefferson permaneceu em silêncio.
- Bom dia
Jefferson, meu nome é Cristina, mas pode me chamar de Cris, sinto muito por
tudo que você esta passando mas mesmo assim preciso fazer algumas perguntas
tudo bem? – a voz dela era doce e suave, usava um óculos de grau e o cabelos
negros caiam em um Chanel sobre seus ombros.
- Fique a
vontade, pergunte o que quiser.
- Bom pra
começar, você ainda é menor de idade, e visto agora ambos seus pais são mortos,
sua guarda vai automaticamente para o seu tio, a não ser que você queira se
emancipar, como você já tem 17 acredito que seja opção viável.
Jefferson
ficou em silêncio alguns segundos pensando em seu tio, conhecia pouco dele, mas
sabia que era um aproveitador, sempre aparecia com algum pedido, ou por empréstimo
de dinheiro o qual nunca retornava, e sua esposa era pior ainda, uma tal de Ana
a qual não merecia nem a atenção de Jefferson.
- Eu prefiro a
minha emancipação a ficar com eles -
Jefferson respondeu determinado
- Eu já tinha
analisado o caso e pensei que pediria isso mesmo, bom logo você recebera alta,
e quando assim for deve me ligar eu venho te buscar, e colocarei um advogado
pra cuidar da sua emancipação também, e já para tratar das pensões que você tem
pra receber, tanto pela morte do seu pai que vocês já recebiam, e agora com a
morte de sua mãe, “que deus a tenha”, terá pensão dela também, aqui esta meu
cartão. Chame a hora que precisar -
disse Cris enquanto entregava o cartão em sua mão e lhe deu um beijo no
rosto – Fique bem.
Isso foi tudo
para aquele dia.
Recomeço
Como aquilo era
possível, 17 anos, estava saindo do colegial reta final para tirar a carteira
de motorista, perdido o pai, recomeçou com a mãe, e agora perdera esta também,
como é possível que alguém tão jovem tenha que passar por tantos recomeços?
Parece injustiça, mas Jefferson logo entendera que o mundo não era justo,
pensava nisso enquanto ligava pra assistente social, e ainda estava perdido
quando uma suave voz do outro lado da linha disse:
- Alô? – a voz
dela era realmente muito bonita.
- É o
Jefferson, eu recebi alta agora pela manhã, gostaria de saber se poderia me dar
uma carona pra casa – disse ele com a voz baixa como que acuado
- Claro
Jefferson, 30 minutos estou ai, até mais – Finalizou a ligação.
A espera era o
que mais maltratava, estava sentado do lado de fora do hospital observando, mas
tudo o que ele conseguia ver era o caos, feridos entrando e algumas pessoas
chorando, mas dos olhos dele não escorria lágrima alguma, o que dizer de tudo o
que houve, como seguir em frente, será que alguém tinha estas respostas, e
mesmo se tiver alguém com tais respostas, por que ele diria?
Cris demorou um
pouco mais do que tinha falado, mas quem poderia culpa-la, de todas as pessoas envolvidas nesta historia
ela era a única que não tinha culpa nenhuma, e se ao invés de tentar enfrentar
o bandido ele tivesse logo ligado para emergência? Talvez ambos estivessem
machucados mas sua mãe ainda teria uma história pra contar, mas agora quem tem
que prosseguir na jornada sozinho era ele, por um momento insano o suicídio
passou por sua cabeça, sentimento que logo se tornou raiva, e raiva de si
mesmo, por que procurar uma saída da vida ao invés de enfrenta-la.
- Desculpe a
demora – A voz de Cristina interrompeu seus pensamentos – Fiquei presa no
escritório um pouco mais.
- Eu entendo
Cris, esta tudo bem. Podemos ir?
- Sobre isso,
teremos que passar na assistência social antes – Ela fez uma breve pausa como
que pesando as palavras – Temos que ter uma conversa com os conselheiros antes
de decidir alguma coisa, e sua casa ainda é cena de crime então... Não se
preocupe, nós vamos resolver – encerrou ela enquanto estendia a mão para
levanta-lo.
Ele ainda tinha
a bandagem na cabeça, tinha levado alguns pontos mas nada mais grave que isso,
mas de pensamentos neste momento a cabeça estava cheia, como assim conversar
com conselheiros, esta certo que era maior de idade, mais dois meses e aquilo
se resolveria, não entendia porque tanta enrolação, após a morte de seu Douglas
seu pai morrera Cláudia tinha decidido por bem passar tudo para seu nome,
tecnicamente já era tudo dele, e em mais dois meses chegaria dezembro, o mês de
seu aniversário, 18 anos de idade, tudo passara tão rápido e agora ele tinha
que recomeçar, ele entrou no carro em um silêncio profundo, puxou o sinto de
segurança e baixou a cabeça. Já Cris ao entrar olhou melhor pra ele e mais uma
vez invadiu seu mundo particular.
- Escuta Jefferson,
posso te chamar de “Jeffo?” Ou “Jeff?”
- Como preferir
Cris – Respondeu sem dar muita importância para o que ela falaria
- ““Eu não vou
te dizer o clichê de que” Ah eu sei pelo que você esta passando” nem nada disso
– ela encostou de leve na mão dele – eu só quero te dizer que você tem uma
amiga aqui e que nós vamos fazer de tudo pra te ajudar.
- Obrigado
Cris, mas eu estou bem. Vou me recuperar.
Diante disso
Cris deu a partida no motor e seguiu para o centro de assistência social, levou
algum tempo e o que quebrou o silêncio foi o som do carro, ela gostava de Green
Day e tocava “Jesus of Suburbia”, ele conhecia a letra mas não cantou enquanto
olhava para os lábios de Cris cantarolando os quase mais de 7 minutos de
versos, em uns 40 minutos chegaram ao centro da cidade, tudo muito movimentado,
um monte de ninguém querendo ser alguém, aquilo quase fez Jefferson rir, mas
ficou em silêncio, enquanto ela estacionava o carro ele tirou o cinto de segurança.
- Vem comigo
“Jeff” por favor – Ela sempre tinha o tom suave e doce na voz.
Entraram em uma
sala que parecia ser a recepção do lugar, Cris apontou um lugar para ele e
pediu para que aguarda-se, os conselheiros estavam reunidos naquele momento e ela
entraria no assunto, quanto a ele? Parecia ser ele o assunto.
Notou nas
pinturas da parede enquanto levantou para se servir de um copo de agua, e
reparou na moça da recepção, ela não podia ter mais de 20 anos e estava ali
trabalhando, estagiária talvez, tinha a pele branca e sardenta e seus cabelos
eram ruivos, bem diferente do ruivo de farmácia, a garota era bonita a sua
maneira e sorriu para Jefferson enquanto ele voltava para seu lugar, alguns
momentos depois a porta se abriu e Cris convidou Jefferson a entrar.
- Sente-se aqui
Jeff, queremos falar com você.
- Sabemos que
não esta passando por um momento fácil, saiba que lamentamos muito a sua dor –
disse uma senhora bem mais velha enquanto os outros ficavam em silêncio – mas
não faz sentido continuar com sua emancipação agora, parece que mais dois meses
você será dono do seu próprio nariz por assim dizer não é mesmo? – Aquilo
arrancou um sorriso das demais pessoas na sala, mas Jefferson raramente tinha
motivos para sorrir – Bom por isso nós conselheiros decidimos fazer o seguinte,
você pode passar estes dois meses com seus tios, mas temos uma outra uma opção,
podemos deixar você nestes dias que passarão muito rápido eu suponho, você
poderia ficar na companhia de Cris, e ela seria sua tutora legal até sua
maioridade, o que você acha.
Jefferson deu
uma olhada para Cris que sorria para ele, só agora ele reparara nos olhos azuis
e no azul do aparelho em seus dentes “qualquer
coisa desde que eu não tenha que ficar com meus tios “pensou mas ao invés
disto disse:
Eu prefiro
ficar em minha casa, e Cris pode passar por lá pra ver como estou, tem um
quarto de hospedes para caso ela precise passar a noite também – fez uma pausa
e então disse decidido – Não quero cansar meus tios com isso, se não houver
problema pra ti Cris?
- Ora problema
algum, fui eu quem pensei nesta saída Jeff, seremos bons amigos nestes próximos
meses
- Tem mais uma
coisa, parece que prenderam alguém com as características que você mencionou,
você precisa fazer o reconhecimento, tudo bem?
- Claro, quando
tem que ser?
- Vamos agendar
pra amanhã, avisaremos a Cris e ela te levará até a delegacia, acho que
encerramos por aqui.
Jefferson foi o
primeiro a sair da sala e esperou por Cris na recepção, a garota era realmente
bonita, não podia ter mais de 25 anos, mas ele nada perguntou a este respeito,
não estava interessado na vida de ninguém já tinha muita coisa para ocupar seus
pensamentos.
- Bom você pode
ficar na minha casa hoje enquanto eu mando alguém limpar o quarto de sua casa?
– Ela perguntou para ele
- Eu prefiro ir
para minha casa, eu ligo para a mulher que cuida da casa no caminho para que
ela jogue tudo na parte de trás do quintal, você pode me deixar em casa se
quiser.
- Que isso, sou
a responsável por você, passaremos em minha casa e eu pegarei algumas roupas,
logo após isso vamos para a sua ok?
- Ok
Jefferson não
estava acostumado a muitos diálogos, então agradeceu a voltar a ouvir Green
Day, desta vez tocava “good Riddance” Ele
gostava daquela musica, mas cantou somente em sua cabeça, a letra era triste
pelo que ele lembrava, mas a vida estava triste então a trilha sonora fazia
todo sentido, ele esperou no carro enquanto Cris pegava roupas dentro de casa,
e como aquilo demorou, já entardecia e o sol começava a se por quando ela saiu
de casa com duas malas, parecia estar de mudança, rapidamente Jefferson desceu
do carro para ajuda-la com as malas, e as porcarias estavam pesadas, como
estavam pesadas, “sera se tem pedras aqui
dentro” pensou em perguntas, mas ao invés disso colocou no porta malas do
belo hb20 da moça, e seguiram caminho para sua casa, já tinha anoitecido quando
chegaram, a mulher que cuidava da casa tinha colocado todas as coisas do quarto
de Cláudia na parte de trás no quintal de casa, empilhado como lhe fora
ordenado e preparara uma refeição.
- não estou com
fome, mas fique a vontade para comer Cris, Tem algo que preciso fazer.
Calmamente ele
pegou uma caixa de fósforos do armário e foi até a garagem, Cris o acompanhou
em silêncio.
- Laura
obrigado pelos seus serviços mas isso é tudo por hoje, até amanha.
Laura era a
empregada que limpava a casa três dias por semana, ou em ocasiões especiais,
não que aquela fosse uma destas mais fazer o que, acontece, ele entrou na
garagem e pegou um frasco com querosene.
- O que você
vai fazer Jeff – Aquele apelido ia acabar pegando
- Não se
preocupe, eu não estou louco, só confie – disse isso enquanto ia para a parte
de trás de casa, mas ao passar pela varanda notou algo no chão, por baixo de
umas folhagens que sua mãe cuidava – o que é aquilo? – disse ele apontando para
algo brilhando no chão.
Era o machado
do bandido, um machado pequeno que podia ser brandido usando uma mão apenas,
para cortar pequenos galhos, ao roubar a casa e fugir o maldito acabara o
deixando por ali.
- Eu vou ligar
pra policia, isso é evidencia
- Não! – Disse
Jefferson – eu quero isso, para nunca me esquecer do que aconteceu aqui, deixe
ai mesmo eu volto buscar depois.
Entrou pela
porta seguido por Cris que parecia apresentar um pouco de medo naquele momento,
saíram pela porta de trás da casa, para onde as coisas de sua mãe estavam todas
empilhadas, o cheiro de sangue era forte, e era sangue inocente, e todo sangue
inocente clama por vingança.
Jefferson abriu
o frasco e começou a jogar querosene ao redor da pilha e logo Cris entendeu o
que aconteceria a seguir, mas não protestou, ao menos não naquele momento,
quando ele fechou o frasco e colocou na varanda de trás de casa foi que ela
tentou falar.
- Você não
vai...
- Sim eu vou...
- mas por que
você não dou-a algumas coisas
- Não sou dono
para doar nada do que era dela, o que era dela vai partir com ela, e ela ficara
para sempre em minha memoria e em meu coração, riscou o fosforo e jogou, em
questão de minutos tudo queimava,
Jefferson em
silêncio voltou para frente de casa, pegou o machado ainda manchado de sangue
pegou um pano com álcool e voltou para trás de casa, Cris acompanhou em
silêncio enquanto ele vestia o capuz, mesmo estando quente por causa da grande
fogueira que se fizera, e observou enquanto ele limpava as manchas de sangue do
machado com um pano branco, naquele momento uma lagrima escorreu pelos olhos de
ambos, mas Jefferson jurou a si mesmo que seria a ultima.
Um dia após o outro
Cris havia
dormido no quarto de hóspedes da casa de Jefferson, e quando este a acordara já
estava na cozinha preparando seu café da manha, panquecas com suco de laranja,
panquecas pela manha? Será se aquela garota era americana? Disse “disse um bom dia fraco” e ligou à
cafeteira elétrica, café da manha tem o nome de “café” por um motivo, sentou-se
a mesa e ficou observando Cris finalizando as panquecas.
- Quantos anos
você tem Cris?
- Chute.
- 23.
- Quase, 24
anos obrigada por me achar mais nova – Disse ela abrindo aquele sorriso lindo,
e Jefferson ficou se perguntando o que passava em sua cabeça.
- Mas 24 ainda
é muito nova, Bom a minha história você já conhece e já que vamos ser amigos,
você fica me devendo sua historia – disse ele enquanto servia-se de uma xicara
de café.
- E vou ficar
devendo, pelo menos esta manha, Você tem aula não tem? E eu tenho que ir para
trabalho, à proposito a que horas acaba sua aula?
- Acaba meio
dia hoje, tem aulas depois, mas eu já tenho nota pra passar, e não conta
presença, eles chamam isso de reforço, e às 4 da tarde eu tenho autoescola –
Completou ele.
- Então é isso,
eu lhe deixo no colégio e vou cuidar de alguns assuntos no trabalho, te pego às
12h15min pode ser?
- Pode.
- Ai eu lhe
conto um pouco da minha história e depois eu te levo pra auto escola, falta
muito ainda? – Perguntou ela comendo passando geleia de morango em uma panqueca
e se servindo de um copo de suco.
- Sim, estou
finalizando as aulas praticas, acredito que em dois meses eu termino as aulas
praticas e faço o teste final, ai serei um motorista oficial.
- Que bom.
Assim que você finalizar seu café podemos ir?
- Vou me trocar
– respondeu ele enquanto levantava-se e iria terminar seu café em seu quarto.
Vestiu
rapidamente seu uniforme e se olhou no espelho enquanto arrumava o cabelo, ele
tinha belos olhos e cabelos negros em contraste com sua pele branca, arrumou
seu topete e foi escovar estes dentes, era tão estranho pra ele, tinha acabado
de passar por algo terrível e ainda assim tinha que ir pra escola, e depois autoescola,
e continuar a vida? Deveria ter uma lei ou algo natural que fizesse parar o
tempo para as pessoas se recuperarem, mas o tempo não parou, olhou-se no
espelho novamente e se sentiu vazio de emoções, ele deveria estar triste?
Deveria, qualquer um estaria. Mas para ele parecia ser apenas um dia normal.
Apanhou sua mochila e gritou “pronto, já
podemos ir”.
- Ok –
respondeu Cris da cozinha.
O colégio que
ele frequentava ficava a uns cinco quilômetros de distancia e normalmente ele
ia de ônibus, mas gostou da ideia de ir de carro, seria bem mais rápido, e não
teria que aturar todo aquele povo chato, crianças e adolescentes brincando de
ser adultos, tudo era uma grande zoeira para todos, mas desde que perdera Seu
pai, Douglas, ele tinha se trancado em seu próprio mundo, conversando somente o
extremo necessário, nenhuma palavra a mais, parecia que nada mais importava,
foi ali que ele começou a criar seu mundo particular, e agora com a partida de Cláudia,
o mundo acabara de se fechar, nada mais importa, foi ali que Jefferson decidiu
apenas viver um dia após outro dia e ver até onde o mundo vai carrega-lo.
Colocou o cinto
de segurança enquanto Cris dava a partida em seu carro, ela tinha prendido o
cabelo em um coque na nuca, e realmente tinha o sorriso lindo e aqueles olhos
azuis pareciam aguas de tão claros, ela não falou nada apenas ligou o som do
carro e o levou até o colégio como tinha dito que faria.
Mais um dia
normal “até mais” disse ela,
Jefferson acenou com a cabeça colocou a mochila nas costas e entrou para o
colégio, muitas pessoas vieram abraça-lo e dizer “meus sentimentos” o corpo havia sido enterrado enquanto ele esta
inconsciente no hospital, e ao que tudo parece o que tinha acontecido já tinha
se espalhado por todos os cantos, e todos pareciam ter pena dele, e só quem
recebe este tipo de olhar sabe como faz a gente se sentir mal, ele estava bem,
parecia não ter sentimentos e se tinha estavam bem enterrados dentro de si, um
pouco antes de entrar para a classe recebeu um áudio de Cris o lembrando de que
eles tinha de ir à delegacia logo após a aula pra reconhecer o assassino, e ele
ficou refletindo naquela doce voz, “reconhecer o assassino”, aquilo fez ele
sentir tanta raiva, encontrou sentimentos dentro de si ainda, entrou no
banheiro com os braços tremendos e quebrou um dos vidros com um soco, sua mão
começou a sangrar, e ao invés de ir para classe foi levado à enfermaria, onde
viram os cortes em sua mão, bem superficial, fizeram algumas bandagens e
concluíram que não precisariam de mais tratamentos e após isso foi para a sala
da diretoria, só nisso foram as duas primeiras aulas.
O dialogo com o
diretor parecia não ter fim, e ele nem por um segundo prestou atenção no o que
aquela pessoa a sua frente dizia, só entendeu que não seria suspenso nem
expulso mediante os recentes fatos, assim foi para a terceira aula com a mão toda
enfaixada, o diretor disse que não comentaria com a assistente social nada
daquilo, o que parecia ser bom, mesmo assim ele teria de dizer algo a Cris, mas
não importava no momento.
A aula era de
matemática, ele já tinha nota pra passar em todas as matérias, só precisava ir
para não ser reprovado por faltas, então nada daquilo importava, colocou o
capuz e os fones de ouvido, não saiu para o intervalo, e seguiu assim pelas
duas ultimas aulas e saiu para esperar Cris. Tinham marcado para as 12h15min,
porém ela atrasou, mas não importava assim que ela chegou ele adentrou ao carro
e colocou o cinto de segurança.
- Então? Para
onde vamos? – Cris perguntou com aquele sorriso lindo e suas faces rosadas
resplandeciam ao sol do meio dia, Jefferson estava deixando encantar-se pela
moça.
- Para a
delegacia, fazer o reconhecimento né? – respondeu já perguntando
- Acho melhor
fazermos um lanche antes, que tal?
- pode ser –
foi à resposta enquanto ela dava a partida no carro.
E assim
seguiram para a lanchonete mais próxima, “Pão
da manha” era o nome da panificadora mais próxima, foi ali onde eles
pararam para um lanche, ela pediu um sanduiche natural e um suco de laranja,
enquanto Jefferson pediu uns rissoles de queijo e presunto e uma Coca-Cola.
Sentara-se a mesa e comeram em silêncio, isso levou aproximadamente uns quinze
minutos, e já passava das 13h00min da tarde quando eles saíram rumo à
delegacia, chegando lá o delegado estava aguardando por eles, Jefferson e Cris
foram levados para uma sala escura, com um grande vidro na frente, o oficial na
porta disse que não haveria perigo, do outro lado do vidro eles não sabiam o
quem estava do outro site, não poderia vê-los, e assim foram trazidas seis
pessoas que foram presas como suspeitas daquele crime, ficaram de frente para o
vidro e Jefferson se viu face a face com o assassino de sua mãe.
- Eles estão
numerados de 1 a 6, para garantir que não haja erros você deve eliminar os que
não são suspeitos.
Cris abraçou
Jeff neste momento como que passando energias para ele.
- É o numero
três, delegado eu tenho certeza. – Jefferson jamais esqueceria os tons daquele
moicano e a trança roxa caindo até a orelha esquerda.
Por um fone o
delegado foi dispensando os outros suspeitos enquanto pediam a ficha do
suspeito numero três, ao que parecia ele já tinha uma ficha criminal.
- Victor
Bresson, preso três vezes, duas quando ele ainda era menor de idade e uma aos
dezoito anos, viciado em drogas já foi denunciado duas vezes por atentado ao
pudor, mas é acusação por estrupo pela primeira vez, o que não quer dizer que
não tenha feito antes – olhou fixamente para Jefferson – ficou preso por três
anos e estava solto há dois anos, ele agora tem 23 anos, você tem certeza de
que é ele?
- Tenho, eu
jamais me esquecerei.
- Mediante a
isso vamos dar cabo à prisão e ao processo penal, na casa deles foram
encontrados alguns aparelhos domésticos jogados, os policiais trouxeram na
saída veja se tem algo que seja da sua casa e servira de prova contra ele.
- Ótimo – foi à
resposta firme de Jefferson.
- Podemos ir
delegado – Ouviu a voz de Cris.
- É claro,
vocês estão dispensados, vamos tentar cabo ao processo o mais rápido possível.
Foi assim que
eles saíram da delegacia, entraram no carro e foram para a casa de Jefferson
que se ocupou até a hora da alta escola limpando os restos das coisas que ele
havia queimado, juntando tudo em sacos de lixo e jogando fora, e às 15h45min
saíram para a autoescola. Ele tinha algumas aulas praticas para fazer isso, e
isso foi tudo por aqueles dias.
O dia do julgamento
Por incrível
que pareça naquele caso o julgamento foi bem rápido, seria dentro de um mês,
conforme os dias passando Jefferson continuava no ritmo escola e autoescola,
ele teria que ter que testemunhar no julgamento, como não bastasse o
reconhecimento que ele fez, e o passado do meliante, ele ainda teria de se
envolver, o mês passou rápido, não sabia se ele era que estava ansioso ou puro
nervosismo mesmo, mas todos os dias ele chegava em casa e afiava o machado,
tinha comprado até uma pedra especial pra dar fio no metal do machado, havia
lixado o cabo e polido a lamina até deixar tão limpa que poderia ver sua face
nela, era como gostava de olhar seus próprios olhos refletidos no metal que
matara sua mãe. Cris seguia os dias de manha no trabalho e as tardes com ele, Jefferson
notou a preocupação dela quanto ao seu costume relacionado ao machado, por isso
passou a fazer o ritual de madrugada, enquanto ela dormia, os dois tinha se
aproximado muito neste ultimo mês, é o que acontece quando se vivem entre
quatro paredes.
Cris era
formada em administração de empresas e possuía um apartamento no centro, fora
seu lindo hb20 e olhos azuis, trabalhava como assistente social há dois anos
concursada, garota inteligente e bem sucedida, se viram outro dia conversando
sobre a carreira que Jefferson decidiria por seguir assim que terminasse a
faculdade, ele tinha pensado em muitas coisas durante muito tempo, mas tudo
perdeu a importância muito rápido, e agora nesta conversa ele simplesmente
respondeu “Psicologia” só por responder mesmo, e o assunto se encerrou com Cris
falando que era uma ótima carreira a seguir. Ambos deram um abraço de boa noite
bem apertados um no outro e foram dormir.
Dentro de uma
semana ocorreria o julgamento e o tempo voou, Jefferson se viu de terno e
gravata entrando no carro de Cris e indo para o julgamento, “aquela primeira parte era somente muita
falação e nada mais” Cris tinha deixado escapar, apenas protocolo, depois
do almoço seriam ouvidas duas ou três testemunhas, mas a de Jefferson deveria
bastar, as outras duas seriam testemunhas de defesa, pouco importava, todos já
sabiam que o sujeito seria condenado, e assim foi seis anos em regime fechado.
- É pouco para
o que ele fez – Jefferson ouviu algumas pessoas dizer
E era realmente
pouco, ele deveria ter a morte, com sofrimento ainda por cima, pena não ter
pena de morte no seu estado, ele adoraria ver aquilo, os últimos meses tinham
arrancado muitas emoções dele e o deixado completamente vazio, o coração
começou então a se encher de rancor e um desejo por insaciável por vingança,
foi em uma destas ocasiões enquanto amolava seu machado que começou a ouvir
vozes, e quando olhou para o machado jurou que pode ver a face do seu pai, fora
apenas um susto “a mente prega peças”
disse a si mesmo para se acalmar, mas quando olhou para o espelho na parede viu
sua mãe de pé, e ficou em pé em frente dela, escorria sangue por suas pernas, e
suas roupas estavam rasgadas.
- Seis anos meu
filho – o fantasma disse – eu acho pouco
- Sua vida
ninguém pode repor minha mãe.
- Você tem
limpado e polido muito bem este machado, mas sabe que meu sangue jamais sairá
dele não é? – o fantasma olhou para o machado e Jefferson também, pode ver
sangue escorrendo pelo cabo – Seis anos é muito pouco.
- Sim mãe, seis
anos é pouco.
Quando olhou para
o espelho o fantasma tinha sumido “toc
toc você esta bem Jefferson” Ele colocou o machado dentro da gaveta e abriu
o notebook rapidamente e então abriu a porta
- sim esta tudo
bem Cris.
- Eu ouvi
vozes.
- Ah é isso, Eu estava no Skype conversando
com um amigo.
- Um amigo que interessante
você não tem muitos, deve ser alguém especial... – disse ela como quem deixa
algo no ar
- Especial
mesmo é só você Cris Sabe disso – Ele viu a garota corar imediatamente,
contrastando com o roupão rosa que usava, ela tinha troca às cores das fitinhas
em seu aparelho também, disse que usaria ainda por mais um ano.
- Bom boa noite
então.
- Boa noite
Cris, tenha bons sonhos.
Jefferson
trancou a porta do quarto depois de observar a bela garota entrando no quarto
em frente ao seu, olhou novamente para o espelho mais o fantasma tinha sumido,
olhou para o machado, mas só via sua face e seus olhos, então se deitou para
dormir, mas não teve uma noite tranquila, teve sonhos estranhos à noite
inteira, onde se encontrava no meio de pessoas todas de preto e com capuz
tapando os olhos, ele estava no centro de um pentagrama, e tinha sangue no
machado, mas ninguém falava nada, ele olhava ao redor e só conseguia ouvir a
voz de Cláudia, “seis anos é pouco”.
Acordou
repetindo aquilo para si mesmo, seis anos é pouco, o sol começava a surgir no
horizonte, e ele ouviu barulhos na cozinha, levantou como de costume apenas com
a parte de baixo do pijama e foi até a cozinha, encontrou Cris em seu roupão
cor de rosa fazendo o café da manha.
- Bom dorminhoco
– A disse com aquele riso lindo
- Bom dia Milady
– disse ele fazendo uma reverencia e beijando a mão dela de leve – A senhorita
esta muito bela esta manha.
- você esta
muito galante milorde – Disse ela e ambos riram.
Tiveram um café
da manha descontraído, Jefferson tinha convencido ela que café pela manha era
melhor que qualquer outra coisa, tanto que a moça havia parado com seu suco de
laranja, ao menos pelas manhas, na hora do jantar sempre tinha, ele preferia
refrigerante, mas tudo bem, as pessoas se adaptam.
- Então
ansiosos para o teste?
- É daqui a
três semanas ainda, e eu tenho aquelas duas aulas praticas que você me forçou a
comprar lembra-se?
- Um dia você
vai me agradecer, e é basicamente isso, mais um mês e sera oficial, Você não
precisará mais de uma baba – Disse ela fazendo biquinho.
- Posso não
precisar mais de uma baba – Disse ele entre um gole de café e uma mordida nas
tradicionais panquecas da tia Cris – mas vou precisar de uma amiga sabe?
- Oh sir, estou
lisonjeada por ser convidada a fazer um grupo tão seleto de pessoas que
incluem... Quantos membros mesmo?
- Como você
disse é bem seleto – ele disse em tom severo e logo quebrou o clima com um
riso.
A rotina
seguiu, ela o levou para o colégio, tinha mais duas semanas de aula, o aniversário
de Jefferson era dia quatro de dezembro, a cerimonia e o baile de formatura
estavam marcados para o dia sete do mesmo mês, era tudo muito clichê, mas ele
queria fazer parte daquilo, e mais do que isso, queria levar Cris no baile, não
tinha garota mais bonita que ela, e por que não? Ela já não seria sua tutora e
sim sua amiga, mas tinha outras preocupações em mente também dia três um dia
antes do seu aniversário seria o teste pratico de sua carteira de motorista,
ele estava bem preparado e frio como o gelo, os dias foram passando rapidamente
até que o dia chegou.
Fez as duas
aulas pela manha e a tarde foi levado por Cris ao local do teste, demorou um
pouco na baliza, mas conseguiu fazer na segunda tentativa, tinham duas pessoas
junto com ele no mesmo carro fora o instrutor, mas ele foi o primeiro a sair
para rua, como o protocolo mandava, o instrutor o fez dar uma volta por duas ou
três quadras e pediu para que ele estacionasse e desliga-se o carro, e que
fosse para o lado de trás, era a vez de outro aspirante a motorista, ao que
tudo parecera ele estava aprovado, havia uma garota fazendo o teste agora, mas
ela foi muito bem, o ultimo garoto passou via preferencial e esquecera o cinto
de segurança, o instrutor pediu para estacionar o carro, o garoto parou em uma
vaga de idoso.
O instrutor
assumiu o volante e voltou para o pátio de testes onde Cris e o seu instrutor
de autoescola estavam esperando, “estes
dois passaram, este tem que ter mais umas aulas” Foi tudo que disse
Jefferson nem teve tempo e Cris estavam o abraçando bem forte, depois disso
apertou a mão do instrutor e deu um abraço de leve agradecendo pela atenção e
lamentando por seu colega que teria que refazer o teste, assim foram para o
carro de Cris, que passou em um mercado antes, pediu pra ele ficar no carro,
ela comprou algumas coisas as quais ele não viu e deixou no porta-malas, ele já
a conhecia suficientemente bem para saber que estava aprontando alguma coisa,
mas ficou em silêncio e foram pra casa. Deram algumas voltas pelo centro antes,
Cris passara em seu apartamento pegar roupas limpas e deixar algumas sujas, e
desceu rapidamente.
Já era noite
quando chegaram em sua casa e passava das 21H00M então ela tirou do porta malas
uma caixinha com seis cervejas long neck e pôs pra gelar.
- Não esqueçamos
que após a meia noite não sou mais responsável por você, e aqui esta seu
presente de aniversário - disse ela colocando as cervejas pra gelar.
Não era segredo para ela que Jefferson já
bebia tinha algum tempo, sempre tinha uma cerveja ou outra na geladeira e ela
fazia vista grossa.
- Mas esta um
pouco frio para cervejas não acha?
- É seu
presente você escolhe quando beber – Ela riu – Estou cansada, vou dormir, tenha
uma boa noite.
- Para você
também – disse a observando.
Ela tinha de
aceitar seu convite para ser sua acompanhante no baile de formatura, ou ele
iria sozinho, mas só faria o pedido na outra manha, tinha tempo ainda, e afinal
de contas ela prometera que continuariam se vendo, continuariam sendo amigos
afinal de contas.