sexta-feira, 16 de novembro de 2018

Eu e minha solidão




Sai de casa a procura de amor
Encontrei apenas frio e solidão
Que já me acompanham desde meu nascer
Sempre foi assim, e me pergunto se sempre vai ser.

Voltei para dentro das paredes geladas do meu quarto
Minha fortaleza onde antes nada me afetava
Já não é mais assim
O silêncio das musicas tocando me machucam

Eu quero ver sangue escorrer
Qualquer coisa que eu sinta é melhor que este vazio
O sangue escorre devagar e é sem gosto
Eu olho para a corda e penso mais uma vez

Sou eu contra o mundo
E o mundo contra mim
E esta batalha quem irá vencer
Acho que todos sabemos a resposta

Ainda assim decidi não desistir
Não, hoje pelo menos não
Quem sabe o sol brilhe para mim amanha
Tem que brilhar um dia

Já estou cansado das trevas
E minha fé eu nem sei onde perdi
Minha alma foi vendida tão barata
Que eu nem acredito, eu nem acredito

Não acredito que vou deixar este mundo vencer
Ninguém deveria deixar, mas hoje
Mais uma vez ele me derrotou
E dentro das paredes geladas do meu quarto eu penso

Pensar deixa triste e sem esperança
Pensar me leva a crer que não há saída
As portas trancas e ninguém em casa
Somente eu e minha solidão.

domingo, 7 de outubro de 2018

Bem ou mal?








Dormir pouco faz mal,

Dormir demais faz mal,

O que nos faz bem afinal?



Estava lá fora agora, e é madrugada,

Admirei sozinho a imensidão do universo,

Mas o céu estava negro e garoava,

E eu queria tão somente sua presença!



Mas estamos todos só presos dentro de nossa própria solidão,

É um inferno viver dentro de minha mente, desejo pra ninguém,

“Eu acendi um cigarro e vi o tempo passar,

Matei o tempo pra ele não me matar”



Estamos todos presos, eu acho que o cigarro vai me matar,

Mas me acalma então faz bem, bem ou mal, tanto faz,

Mas ainda assim eu estava pensando em você.



Ai tão distante de mim, provavelmente dormindo,

E eu aqui acordado prestes a ter uma crise,

Não sei se tomo remédio ou faço um corte no peito!



Opto pela segunda opção tão somente para ver o sangue escorrer,

Ele é vermelho como o sangue de todos nós,

Sangrando aos poucos um longe dos outros,

Eu sinto outra crise chegando.



Não sei se é hora do remédio ou hora de tentar resistir

O tempo vai me matar, eu que pensava estar o matando,


“mas o tempo? O tempo não para!”



Eu me sinto cansado, nos últimos dias tenho feito tanto,

E nada ao mesmo tempo, esta dualidade esta me ferindo cada vez mais,

Eu precisava de uma nave espacial para fugir deste mundo,

Mas eu não quero fugir sozinho, você viria comigo?



Estaremos sozinhos na imensidão do universo sem lugar pra ir

Mas não estamos todos sozinhos aqui?

É uma prisão que chamamos viver, eles dizem faça isso, faça aquilo,

Mas na verdade ninguém sabe o que é ser eu, ou ser você!



E todo o inferno que rodeia a todos nós,

Eu sobrevivo mais um dia, o segredo esta no equilíbrio,

Mas infelizmente eu sinto que já estou caindo!



Por Cleverson D’Oliveira 08/10/2018 02:36 am

sexta-feira, 21 de setembro de 2018

Quem dera






Já vi o fim do mundo algumas vezes. E na manhã seguinte tava tudo bem

Engenheiros do hawaii

As orquídeas morrem todo ano

Apenas para florescer uma vez mais

Ainda mais bela e mais forte



Quem dera fossemos orquídeas

E poder morrer incontáveis vezes

Apenas para renascer

Mais fortes e mais belos



Já mesmo já perdi as contas

De quantas vezes eu morri e ressurgir

Mas tenho menos de 7 vidas



Eu invejo os gatos e as orquídeas

Quem dera fosse um ou outro

E gastar incontáveis vidas

Oh quem dera



Mas nada disso sou

Tenho apenas uma pobre, fraca e humana vida

E depois dessa, não sei o que vira



Mas seja o que vier, não pode ser pior

Não tem como piorar? Ou tem?

Quisera eu acreditar que não

Mas sigo sem luz, sozinha na escuridão

quarta-feira, 12 de setembro de 2018

Você não é uma formiga tão pouco atlas o titã



“A formiga tecelã asiática ou Oecophylla smaragdina consegue carregar até 100 vezes o seu peso” acredite quando eu digo que isso é muito “Ah lá vem outra reflexão sobre formigas”, mas na realidade eu quero falar com você hoje sobre bem mais que formigas, queria realmente falar com você meu amigo leitor que parou um pouco pra ler o que escrevi aqui, eu não sei qual peso você esta tentando carregar sozinho, mas acredite em mim quando eu digo que você não é a formiga tão pouco o titã “atlas” que foi obrigado por Zeus a carregar o peso no mundo sobre os ombros, você não precisa carregar esta carga toda.
Vai por mim, eu tenho carregado um peso sobre humano desde minha adolescência e hoje com 31 anos colho os frutos disso tudo, sim eu sou a “geração rivotril” desempregado e com dividas, com mil problemas, mas hoje eu parei pra pensar e porra, eu não sou uma maldita formiga, nem você que esta lendo este texto, nós somos apenas humanos, então tudo bem chorar de vez em quando, dizem que inclusive faz bem, tudo bem você ter sua fé em cristo em buda ou sei lá o que, eu tenho fé no universo.
Eu sei que esta carga que ele me deu eu consigo carregar, mas eu preciso de ajuda às vezes, alguém com quem você possa compartilhar seus problemas, mesmo que seja um bot. do sistema (Acredite eu já procurei) eu particularmente não posso me abrir nem para o meu psiquiatra, se não ele me interna (olha que chique falar “Meu psiquiatra”) é o governo que paga, ou seja, nós mesmos, então esta tudo bem se você buscar ajuda pra carregar este peso, todos nós estamos carregando este peso, vamos deixar um pouco dele para o universo carregar hoje mesmo.
Eu gostaria que você coloca-se nos comentários qual peso você esta carregando, você não vai ser julgada, eu não sou juiz, mas só queria que você soubesse que você não esta sozinho nesta parte de sua caminhada.
Se estiver lendo isso no meu blog pode comentar como anônimo, você não esta sozinho.

segunda-feira, 10 de setembro de 2018

Talvez




Talvez, não tenhamos sido feitos.

Um para o outro afinal

Talvez, tudo tenha sido apenas um erro.

E desde o começo seguimos pelo: talvez.



Talvez tenhamos insistido demais

(Sabendo que o fim já era certo)

Ou errado demais, quem pode dizer.

(Eu já nem sei mais)



Sempre ocupados demais,

Longes demais, afastando-se mais e mais.

De modo que a distancia, virou rotina.

E o pouco tempo juntos, uma cobiça.



Talvez tenhamos nos perdidos aos poucos

(Completamente fora do caminho planejado)

Em detalhes nas curvas desta estrada

(Enquanto eu só queria me perder em suas curvas)



Talvez sejam problemas demais, erros demais.

Coisas que hoje eu já nem sei mais,

Mas o tempo passou, e passou demasiado rápido.

E a vida continuou, e os caminhos? Afastaram-se demais





Por Cleverson D’Oliveira

29/07/2016

sexta-feira, 31 de agosto de 2018

Outono


Ouvi dizer palavras bonitas por muito tempo

E demorei  muito tempo para entender que palavras são como vento,

O verão passou e as palavras se foram

Restaram as folhas caídas de todo o outono

E o vento frio do inverno cortando ainda mais

A ferida ainda aberta

E não há o que cure esta dor

Este vazio interior.



Eu assumi os riscos quando escolhi amar

E estou colhendo de bom grado o fruto

Mas deixar de amar? Eu nunca deixei



O vento não levou tal sentimento

E o frio do inverno congelou o fogo de amor

Ficou de tudo isso apenas dor

As rosas secaram em outono,

E não retornaram na primavera

Desde então minha vida tem sido em preto e branco

E não há nada a fazer com isso



“O tempo cura todas as feridas”

Eles disseram, mas dizer é tão fácil

Palavras o vendo leva

E a dor? Ela continua aqui

sexta-feira, 17 de agosto de 2018

O maniaco do machado





 


O maniaco do machado





Era noite quando ele ouviu as batidas na porta, não batidas como algum amigo chegando, mas batidas violentas e ele acordou repentinamente, mais algumas batidas e Jefferson pode perceber que a porta tinha sido arrombada, puxou as cobertas até a cabeça e ficou em total silêncio, ouvindo os passos no corredor, outra pancada e mais uma porta arrombada, a porta do quarto da sua mãe vinha antes da dele. Começou a ouvir gritos de pânico, alguém perguntava se tinha mais alguém em casa, e a voz de sua mãe respondendo que não, mas que o namorado dela estava pra chegar. 

Que namorado, Jefferson se perguntou dentro de sua cabeça, sua mãe era sozinha desde que ele se lembrava, continuou em silêncio ouvindo o que se passava no quarto que dividia a parede junto com a dele, puxou as cobertas e colou o ouvido na parede.


- Pode levar o que quiser por favor – ouviu sua mãe dizendo entre lágrimas.

- Hoje eu só quero me divertir neném – foi à resposta – você é tão bonita sabe? Ah e eu sei que você não tem namorado.

- Não por favor – a mãe dele implorando.

Levantou-se repentinamente e procurou pelo bastão de basebol mesmo no escuro ele deixava sempre em mãos, a casa ficava um pouco afastada do resto das demais de modo que os gritos só seriam ouvidos se fossem bem altos, com todo cuidado abriu a porta para não fazer barulho e saiu para o corredor, à luz do quarto de sua mãe estava acessa, pé ante pé ele se aproximou, espiou pela porta entre aberta, tinha um sujeito em cima da cama tapando a boca de Cláudia, sua mãe.

- Shhhhiu, não queremos atrair mais atenção não é? – o sujeito colocou um machado pequeno do lado da cama.

Ele era alto e corpulento, seu cabelo era um moicano alto e com as pontas avermelhadas, atrás da orelha saia uma trança azul que chegava a altura dos ombros, tomado por um impulso de coragem Jefferson pulou para dentro do quarto munido de seu bastão de basebol e se lançou para cima do bandido, o bastão atingiu as costas do meliante, mas não foi forte o suficiente, ele somente saiu de cima de Cláudia e pegou o machado.

- Parece que não estamos sozinhos não é?

- Não faça nada pra ele, eu faço tudo o que você quiser tudo – Cláudia estava desesperada.

- Calma bebe nós já vamos nos divertir.

Jefferson avançou novamente, mas o homem era muito maior e mais forte que ele e parou o golpe com o braço, dando uma cabeçada no rosto de Jefferson, e com a parte sem fio no machado atingiu a nuca dele, tudo escureceu e ele sentiu sangue escorrendo de sua cabeça, caiu no chão paralisado, em alguns segundo muito tonto à visão voltou embaçada e vermelha de sangue, mas isso foi tudo, ele não teve forças para se levantar e quando tentou levou um chute no rosto que o lançou longe, e desligou totalmente seus sentidos.

Acordou no outro dia, com muitas dores de cabeça, o chão estava tão ensanguentado, só de encostar em sua nuca sentiu uma dor alucinante que pareceu percorrer seu corpo todo, ele estava no corredor de sua casa pelo que pode ver com os olhos anuviados, seu primeiro impulso foi tentar levantar-se e ir até o quarto de sua mãe, mas lembrou do que acontecera instantes atrás, o sol começava a entrar pela janela da sala, e ele percebeu que estava tudo bagunçado, a televisão não estava mais lá, nem o rádio, o vídeo game também sumira, mas o telefone ainda estava lá, foi isso o que ele fez, cambaleou até o telefone e discou para o numero de emergência, mas as palavras se embaralhavam em sua cabeça.

- Qual a emergência? – disse uma voz feminina do outro da linha

- Ouve uma invasão em minha casa esta noite- disse ele tentando colocar os pensamentos em ordem – eu levei uma pancada e desmaiei antes de conseguir pedir ajuda, venha rápido por favor, ele estava em cima de minha mãe, com um machado nas mãos.

- Tenha calma – pediu a atendente – estamos mandando uma viatura e uma ambulância, a sua mãe esta bem?

- Eu não sei- respondeu Jefferson fazendo uma pausa – ainda não tive coragem para entrar no quarto dela, mas eu estou com um ferimento na cabeça e meio tonto.

- O endereço é este cadastrado na sua linha? Confirme por favor.

- É este mesmo, por favor venha rápido.

- Já tem uma unidade em deslocamento para o local, por favor mantenha a calma, pode continuar na linha se quiser.

- Não é necessário, eu preciso sentar e tentar me acalmar, fumar um cigarro, e esperar ajuda.

- Como queira, as unidades já estão a caminho, qualquer outra informação pode nos ligar.

Jefferson desligou o telefone e olhou ao redor, a porta da geladeira estava aberta, mas não ter alimento nenhum, ele queria entrar no quarto de sua mãe mas faltou coragem, Jefferson fumava desde os 14 anos de idade e agora com 16 aquilo já era rotina, seu quarto estava intacto a não ser pelas manchas de sangue que ele deixou ao se apoiar pelas paredes cambaleante, o mundo todo parecia girar, só depois de acender um cigarro e dar uma tragada foi que teve coragem de abrir o entrar no quarto de sua mãe, era somente os dois naquela casa desde que Douglas seu pai tinha morrido dois anos atrás em um acidente de carro, ele e Cláudia escaparam por pouco.

Ao entrar pelo quarto o que vira o deixou em estado de choque, o quarto estava todo ensanguentado, e o sangue era de sua mãe caída ao chão totalmente mutilada, suas roupas de dormir rasgadas, mas o olhar morto dela pareceu alcançar a alma de Jefferson, o criminoso havia sido bárbaro, cortara um dos braços de sua mãe, provavelmente a machadadas, e tinha muitos machucados em um dos seus seios, entre as pernas só se via sangue, a calcinha que ela usava estava jogada em um canto rasgada como quase todo o resto do vestuário. Jefferson saiu do quarto com ânsia de vomito, no momento que ouvia as sirenes que chegavam, maldita casa afastada, os vizinhos mais próximos ficavam a mais de dois quilômetros de distancia, nunca ninguém ouviria os gritos de socorro que com toda certeza o desespero a fez gritar, mas por que ele fora poupado? Ou talvez o criminoso acha-se que ele esta morto. Não importava ele estava mais que vivo, e aos poucos os sentidos foram voltando quando os policiais invadiram a casa, com um médico entre eles.

- temos um garoto com não mais de 18 anos no local precisando de cuidados médicos -  Disse um policial com arma na mão – tirem ele daqui.

Ao ser escoltado para fora de casa viu manchas de sangue pela sacada de sua casa, e o machado usado pelo bandido jogado em um canto no jardim, foi escoltado até a ambulância enquanto uma medica foi cuidar dos seus ferimentos, ele teve de ser encaminhando para atendimento em um hospital próximo, e foi tudo por aquele dia, ele fora dopado, e apagou a caminho do hospital.







O inicio




Abriu os olhos e viu tudo branco “será que estou morto” foi o primeiro pensamento que veio a sua cabeça, ao tentar se mexer sentiu uma dor latejar o seu corpo todo, aos poucos sua visão foi voltando, escutava muitas coisas ao seu redor, quando alguém abriu a porta do quarto entrou.

- Ele esta consciente, mas não tente forçar muito suas memorias.

- Tudo bem doutora, só precisamos saber alguns detalhes a mais e já vamos, voltaremos quando ele estiver melhor.

- Bom dia Jefferson, como esta se sentindo?

- Péssimo, parece que fui atropelado por um caminhão que carrega outros 40 caminhões, o que aconteceu?

- Vamos com calma rapaz, seu nome é Jefferson correto?

- Sim

- Tem 16 anos?

- Sim completo 17 mês que vem acho, por quanto tempo eu dormi?

- Não dormiu, você levou uma pancada muito forte na cabeça, ficou anestesiado por dois dias, mas os médicos disseram que você vai se recuperar, estas são as boas noticias.

- Sim as más noticias eu já sei, eu vi antes de vocês chegarem na minha casa, minha mãe não sobrevivei não é? – queria passar força na voz, mas foi traído pelas lágrimas em seus olhos

- Eu sinto muito – Foi tudo o que o oficial disse – Ela já estava morta quando chegamos, você acha que esta em condições de nos falar como era o invasor? Para que comecemos a investigar?

- Claro, nunca me senti melhor senhor – Mentiu para si mesmo e para o policial.

- Tudo bem então, eu vou buscar o desenhista, dentro de meia hora estarei de volta, tente descansar e lembrar de quantos detalhes conseguir lembrar ok?

- Tudo bem.

O oficial o deixou perdido em seus pensamentos mas dentro de meia hora ou um pouco mais retornou com o desenhista, Jefferson estava sentado na cama tomando agua quando eles adentraram pela porta. Sentia-se um pouco tonto ainda mas estava pronto para descrever o que se lembrava do acontecido.

- Você viu a face do agressor? – foi à primeira pergunta.

- vi sim, por pouco tempo mais vi, ele é branco e tinha uma cicatriz não sei dizer bem se no lado esquerdo ou direito do rosto, estou confuso agora – concluiu tocando a bandagem que estava em sua cabeça.

- e quanto à altura pode nos dizer?

- bom ele não parecia ser tão maior que eu, eu tenho 1,74 talvez ele tenha 1,80 por ai, era bem forte e corpulento, me acertou com o machado na cabeça, mas não com a ponta.

- É pode se dizer que você teve sorte nisso.

- o nariz dele era grande e feio acho que adunco é a palavra mais certa.

- esta certo e o cabelo como era?

- seu cabelo era um moicano alto e com as pontas avermelhadas, atrás da orelha saia uma trança azul que chegava a altura dos ombros, isso é tudo o que me lembro, e de minha mãe implorando para que ele não fizesse nada – as lágrimas vieram sem serem solicitadas.

- Bom já temos o que precisamos pra começar as investigações, tem outra mulher pra falar com você, ela é da assistência social.

- Obrigado Senhor.

Voltou a deitar-se e esperar para responder por mais um monte de perguntas. Naquele momento entrou uma moça que não aparentava ter mais de 24 anos de idade, Jefferson permaneceu em silêncio.

- Bom dia Jefferson, meu nome é Cristina, mas pode me chamar de Cris, sinto muito por tudo que você esta passando mas mesmo assim preciso fazer algumas perguntas tudo bem? – a voz dela era doce e suave, usava um óculos de grau e o cabelos negros caiam em um Chanel sobre seus ombros.

- Fique a vontade, pergunte o que quiser.

- Bom pra começar, você ainda é menor de idade, e visto agora ambos seus pais são mortos, sua guarda vai automaticamente para o seu tio, a não ser que você queira se emancipar, como você já tem 17 acredito que seja opção viável.

Jefferson ficou em silêncio alguns segundos pensando em seu tio, conhecia pouco dele, mas sabia que era um aproveitador, sempre aparecia com algum pedido, ou por empréstimo de dinheiro o qual nunca retornava, e sua esposa era pior ainda, uma tal de Ana a qual não merecia nem a atenção de Jefferson.

- Eu prefiro a minha emancipação a ficar com eles -  Jefferson respondeu determinado

- Eu já tinha analisado o caso e pensei que pediria isso mesmo, bom logo você recebera alta, e quando assim for deve me ligar eu venho te buscar, e colocarei um advogado pra cuidar da sua emancipação também, e já para tratar das pensões que você tem pra receber, tanto pela morte do seu pai que vocês já recebiam, e agora com a morte de sua mãe, “que deus a tenha”, terá pensão dela também, aqui esta meu cartão. Chame a hora que precisar -  disse Cris enquanto entregava o cartão em sua mão e lhe deu um beijo no rosto – Fique bem.

Isso foi tudo para aquele dia.







Recomeço




Como aquilo era possível, 17 anos, estava saindo do colegial reta final para tirar a carteira de motorista, perdido o pai, recomeçou com a mãe, e agora perdera esta também, como é possível que alguém tão jovem tenha que passar por tantos recomeços? Parece injustiça, mas Jefferson logo entendera que o mundo não era justo, pensava nisso enquanto ligava pra assistente social, e ainda estava perdido quando uma suave voz do outro lado da linha disse:

- Alô? – a voz dela era realmente muito bonita.

- É o Jefferson, eu recebi alta agora pela manhã, gostaria de saber se poderia me dar uma carona pra casa – disse ele com a voz baixa como que acuado

- Claro Jefferson, 30 minutos estou ai, até mais – Finalizou a ligação.

A espera era o que mais maltratava, estava sentado do lado de fora do hospital observando, mas tudo o que ele conseguia ver era o caos, feridos entrando e algumas pessoas chorando, mas dos olhos dele não escorria lágrima alguma, o que dizer de tudo o que houve, como seguir em frente, será que alguém tinha estas respostas, e mesmo se tiver alguém com tais respostas, por que ele diria?

Cris demorou um pouco mais do que tinha falado, mas quem poderia culpa-la,  de todas as pessoas envolvidas nesta historia ela era a única que não tinha culpa nenhuma, e se ao invés de tentar enfrentar o bandido ele tivesse logo ligado para emergência? Talvez ambos estivessem machucados mas sua mãe ainda teria uma história pra contar, mas agora quem tem que prosseguir na jornada sozinho era ele, por um momento insano o suicídio passou por sua cabeça, sentimento que logo se tornou raiva, e raiva de si mesmo, por que procurar uma saída da vida ao invés de enfrenta-la.

- Desculpe a demora – A voz de Cristina interrompeu seus pensamentos – Fiquei presa no escritório um pouco mais.

- Eu entendo Cris, esta tudo bem. Podemos ir?

- Sobre isso, teremos que passar na assistência social antes – Ela fez uma breve pausa como que pesando as palavras – Temos que ter uma conversa com os conselheiros antes de decidir alguma coisa, e sua casa ainda é cena de crime então... Não se preocupe, nós vamos resolver – encerrou ela enquanto estendia a mão para levanta-lo.

Ele ainda tinha a bandagem na cabeça, tinha levado alguns pontos mas nada mais grave que isso, mas de pensamentos neste momento a cabeça estava cheia, como assim conversar com conselheiros, esta certo que era maior de idade, mais dois meses e aquilo se resolveria, não entendia porque tanta enrolação, após a morte de seu Douglas seu pai morrera Cláudia tinha decidido por bem passar tudo para seu nome, tecnicamente já era tudo dele, e em mais dois meses chegaria dezembro, o mês de seu aniversário, 18 anos de idade, tudo passara tão rápido e agora ele tinha que recomeçar, ele entrou no carro em um silêncio profundo, puxou o sinto de segurança e baixou a cabeça. Já Cris ao entrar olhou melhor pra ele e mais uma vez invadiu seu mundo particular.

- Escuta Jefferson, posso te chamar de “Jeffo?” Ou “Jeff?”

- Como preferir Cris – Respondeu sem dar muita importância para o que ela falaria

- ““Eu não vou te dizer o clichê de que” Ah eu sei pelo que você esta passando” nem nada disso – ela encostou de leve na mão dele – eu só quero te dizer que você tem uma amiga aqui e que nós vamos fazer de tudo pra te ajudar.

- Obrigado Cris, mas eu estou bem. Vou me recuperar.

Diante disso Cris deu a partida no motor e seguiu para o centro de assistência social, levou algum tempo e o que quebrou o silêncio foi o som do carro, ela gostava de Green Day e tocava “Jesus of Suburbia”, ele conhecia a letra mas não cantou enquanto olhava para os lábios de Cris cantarolando os quase mais de 7 minutos de versos, em uns 40 minutos chegaram ao centro da cidade, tudo muito movimentado, um monte de ninguém querendo ser alguém, aquilo quase fez Jefferson rir, mas ficou em silêncio, enquanto ela estacionava o carro ele tirou o cinto de segurança.

- Vem comigo “Jeff” por favor – Ela sempre tinha o tom suave e doce na voz.

Entraram em uma sala que parecia ser a recepção do lugar, Cris apontou um lugar para ele e pediu para que aguarda-se, os conselheiros estavam reunidos naquele momento e ela entraria no assunto, quanto a ele? Parecia ser ele o assunto.

Notou nas pinturas da parede enquanto levantou para se servir de um copo de agua, e reparou na moça da recepção, ela não podia ter mais de 20 anos e estava ali trabalhando, estagiária talvez, tinha a pele branca e sardenta e seus cabelos eram ruivos, bem diferente do ruivo de farmácia, a garota era bonita a sua maneira e sorriu para Jefferson enquanto ele voltava para seu lugar, alguns momentos depois a porta se abriu e Cris convidou Jefferson a entrar.

- Sente-se aqui Jeff, queremos falar com você.

- Sabemos que não esta passando por um momento fácil, saiba que lamentamos muito a sua dor – disse uma senhora bem mais velha enquanto os outros ficavam em silêncio – mas não faz sentido continuar com sua emancipação agora, parece que mais dois meses você será dono do seu próprio nariz por assim dizer não é mesmo? – Aquilo arrancou um sorriso das demais pessoas na sala, mas Jefferson raramente tinha motivos para sorrir – Bom por isso nós conselheiros decidimos fazer o seguinte, você pode passar estes dois meses com seus tios, mas temos uma outra uma opção, podemos deixar você nestes dias que passarão muito rápido eu suponho, você poderia ficar na companhia de Cris, e ela seria sua tutora legal até sua maioridade, o que você acha.

Jefferson deu uma olhada para Cris que sorria para ele, só agora ele reparara nos olhos azuis e no azul do aparelho em seus dentes “qualquer coisa desde que eu não tenha que ficar com meus tios “pensou mas ao invés disto disse:

Eu prefiro ficar em minha casa, e Cris pode passar por lá pra ver como estou, tem um quarto de hospedes para caso ela precise passar a noite também – fez uma pausa e então disse decidido – Não quero cansar meus tios com isso, se não houver problema pra ti Cris?

- Ora problema algum, fui eu quem pensei nesta saída Jeff, seremos bons amigos nestes próximos meses

- Tem mais uma coisa, parece que prenderam alguém com as características que você mencionou, você precisa fazer o reconhecimento, tudo bem?

- Claro, quando tem que ser?

- Vamos agendar pra amanhã, avisaremos a Cris e ela te levará até a delegacia, acho que encerramos por aqui.

Jefferson foi o primeiro a sair da sala e esperou por Cris na recepção, a garota era realmente bonita, não podia ter mais de 25 anos, mas ele nada perguntou a este respeito, não estava interessado na vida de ninguém já tinha muita coisa para ocupar seus pensamentos.

- Bom você pode ficar na minha casa hoje enquanto eu mando alguém limpar o quarto de sua casa? – Ela perguntou para ele

- Eu prefiro ir para minha casa, eu ligo para a mulher que cuida da casa no caminho para que ela jogue tudo na parte de trás do quintal, você pode me deixar em casa se quiser.

- Que isso, sou a responsável por você, passaremos em minha casa e eu pegarei algumas roupas, logo após isso vamos para a sua ok?

- Ok

Jefferson não estava acostumado a muitos diálogos, então agradeceu a voltar a ouvir Green Day, desta vez tocava “good Riddance” Ele gostava daquela musica, mas cantou somente em sua cabeça, a letra era triste pelo que ele lembrava, mas a vida estava triste então a trilha sonora fazia todo sentido, ele esperou no carro enquanto Cris pegava roupas dentro de casa, e como aquilo demorou, já entardecia e o sol começava a se por quando ela saiu de casa com duas malas, parecia estar de mudança, rapidamente Jefferson desceu do carro para ajuda-la com as malas, e as porcarias estavam pesadas, como estavam pesadas, “sera se tem pedras aqui dentro” pensou em perguntas, mas ao invés disso colocou no porta malas do belo hb20 da moça, e seguiram caminho para sua casa, já tinha anoitecido quando chegaram, a mulher que cuidava da casa tinha colocado todas as coisas do quarto de Cláudia na parte de trás no quintal de casa, empilhado como lhe fora ordenado e preparara uma refeição.

- não estou com fome, mas fique a vontade para comer Cris, Tem algo que preciso fazer.

Calmamente ele pegou uma caixa de fósforos do armário e foi até a garagem, Cris o acompanhou em silêncio.

- Laura obrigado pelos seus serviços mas isso é tudo por hoje, até amanha.

Laura era a empregada que limpava a casa três dias por semana, ou em ocasiões especiais, não que aquela fosse uma destas mais fazer o que, acontece, ele entrou na garagem e pegou um frasco com querosene.

- O que você vai fazer Jeff – Aquele apelido ia acabar pegando

- Não se preocupe, eu não estou louco, só confie – disse isso enquanto ia para a parte de trás de casa, mas ao passar pela varanda notou algo no chão, por baixo de umas folhagens que sua mãe cuidava – o que é aquilo? – disse ele apontando para algo brilhando no chão.

Era o machado do bandido, um machado pequeno que podia ser brandido usando uma mão apenas, para cortar pequenos galhos, ao roubar a casa e fugir o maldito acabara o deixando por ali.

- Eu vou ligar pra policia, isso é evidencia

- Não! – Disse Jefferson – eu quero isso, para nunca me esquecer do que aconteceu aqui, deixe ai mesmo eu volto buscar depois.

Entrou pela porta seguido por Cris que parecia apresentar um pouco de medo naquele momento, saíram pela porta de trás da casa, para onde as coisas de sua mãe estavam todas empilhadas, o cheiro de sangue era forte, e era sangue inocente, e todo sangue inocente clama por vingança.

Jefferson abriu o frasco e começou a jogar querosene ao redor da pilha e logo Cris entendeu o que aconteceria a seguir, mas não protestou, ao menos não naquele momento, quando ele fechou o frasco e colocou na varanda de trás de casa foi que ela tentou falar.

- Você não vai...

- Sim eu vou...

- mas por que você não dou-a algumas coisas

- Não sou dono para doar nada do que era dela, o que era dela vai partir com ela, e ela ficara para sempre em minha memoria e em meu coração, riscou o fosforo e jogou, em questão de minutos tudo queimava,

Jefferson em silêncio voltou para frente de casa, pegou o machado ainda manchado de sangue pegou um pano com álcool e voltou para trás de casa, Cris acompanhou em silêncio enquanto ele vestia o capuz, mesmo estando quente por causa da grande fogueira que se fizera, e observou enquanto ele limpava as manchas de sangue do machado com um pano branco, naquele momento uma lagrima escorreu pelos olhos de ambos, mas Jefferson jurou a si mesmo que seria a ultima.





Um dia após o outro



Cris havia dormido no quarto de hóspedes da casa de Jefferson, e quando este a acordara já estava na cozinha preparando seu café da manha, panquecas com suco de laranja, panquecas pela manha? Será se aquela garota era americana? Disse “disse um bom dia fraco” e ligou à cafeteira elétrica, café da manha tem o nome de “café” por um motivo, sentou-se a mesa e ficou observando Cris finalizando as panquecas.

- Quantos anos você tem Cris?

- Chute.

- 23.

- Quase, 24 anos obrigada por me achar mais nova – Disse ela abrindo aquele sorriso lindo, e Jefferson ficou se perguntando o que passava em sua cabeça.

- Mas 24 ainda é muito nova, Bom a minha história você já conhece e já que vamos ser amigos, você fica me devendo sua historia – disse ele enquanto servia-se de uma xicara de café.

- E vou ficar devendo, pelo menos esta manha, Você tem aula não tem? E eu tenho que ir para trabalho, à proposito a que horas acaba sua aula?

- Acaba meio dia hoje, tem aulas depois, mas eu já tenho nota pra passar, e não conta presença, eles chamam isso de reforço, e às 4 da tarde eu tenho autoescola – Completou ele.

- Então é isso, eu lhe deixo no colégio e vou cuidar de alguns assuntos no trabalho, te pego às 12h15min pode ser?

- Pode.

- Ai eu lhe conto um pouco da minha história e depois eu te levo pra auto escola, falta muito ainda? – Perguntou ela comendo passando geleia de morango em uma panqueca e se servindo de um copo de suco.

- Sim, estou finalizando as aulas praticas, acredito que em dois meses eu termino as aulas praticas e faço o teste final, ai serei um motorista oficial.

- Que bom. Assim que você finalizar seu café podemos ir?

- Vou me trocar – respondeu ele enquanto levantava-se e iria terminar seu café em seu quarto.

Vestiu rapidamente seu uniforme e se olhou no espelho enquanto arrumava o cabelo, ele tinha belos olhos e cabelos negros em contraste com sua pele branca, arrumou seu topete e foi escovar estes dentes, era tão estranho pra ele, tinha acabado de passar por algo terrível e ainda assim tinha que ir pra escola, e depois autoescola, e continuar a vida? Deveria ter uma lei ou algo natural que fizesse parar o tempo para as pessoas se recuperarem, mas o tempo não parou, olhou-se no espelho novamente e se sentiu vazio de emoções, ele deveria estar triste? Deveria, qualquer um estaria. Mas para ele parecia ser apenas um dia normal. Apanhou sua mochila e gritou “pronto, já podemos ir”.

- Ok – respondeu Cris da cozinha.

O colégio que ele frequentava ficava a uns cinco quilômetros de distancia e normalmente ele ia de ônibus, mas gostou da ideia de ir de carro, seria bem mais rápido, e não teria que aturar todo aquele povo chato, crianças e adolescentes brincando de ser adultos, tudo era uma grande zoeira para todos, mas desde que perdera Seu pai, Douglas, ele tinha se trancado em seu próprio mundo, conversando somente o extremo necessário, nenhuma palavra a mais, parecia que nada mais importava, foi ali que ele começou a criar seu mundo particular, e agora com a partida de Cláudia, o mundo acabara de se fechar, nada mais importa, foi ali que Jefferson decidiu apenas viver um dia após outro dia e ver até onde o mundo vai carrega-lo.

Colocou o cinto de segurança enquanto Cris dava a partida em seu carro, ela tinha prendido o cabelo em um coque na nuca, e realmente tinha o sorriso lindo e aqueles olhos azuis pareciam aguas de tão claros, ela não falou nada apenas ligou o som do carro e o levou até o colégio como tinha dito que faria.

Mais um dia normal “até mais” disse ela, Jefferson acenou com a cabeça colocou a mochila nas costas e entrou para o colégio, muitas pessoas vieram abraça-lo e dizer “meus sentimentos” o corpo havia sido enterrado enquanto ele esta inconsciente no hospital, e ao que tudo parece o que tinha acontecido já tinha se espalhado por todos os cantos, e todos pareciam ter pena dele, e só quem recebe este tipo de olhar sabe como faz a gente se sentir mal, ele estava bem, parecia não ter sentimentos e se tinha estavam bem enterrados dentro de si, um pouco antes de entrar para a classe recebeu um áudio de Cris o lembrando de que eles tinha de ir à delegacia logo após a aula pra reconhecer o assassino, e ele ficou refletindo naquela doce voz, “reconhecer o assassino”, aquilo fez ele sentir tanta raiva, encontrou sentimentos dentro de si ainda, entrou no banheiro com os braços tremendos e quebrou um dos vidros com um soco, sua mão começou a sangrar, e ao invés de ir para classe foi levado à enfermaria, onde viram os cortes em sua mão, bem superficial, fizeram algumas bandagens e concluíram que não precisariam de mais tratamentos e após isso foi para a sala da diretoria, só nisso foram as duas primeiras aulas.

O dialogo com o diretor parecia não ter fim, e ele nem por um segundo prestou atenção no o que aquela pessoa a sua frente dizia, só entendeu que não seria suspenso nem expulso mediante os recentes fatos, assim foi para a terceira aula com a mão toda enfaixada, o diretor disse que não comentaria com a assistente social nada daquilo, o que parecia ser bom, mesmo assim ele teria de dizer algo a Cris, mas não importava no momento.

A aula era de matemática, ele já tinha nota pra passar em todas as matérias, só precisava ir para não ser reprovado por faltas, então nada daquilo importava, colocou o capuz e os fones de ouvido, não saiu para o intervalo, e seguiu assim pelas duas ultimas aulas e saiu para esperar Cris. Tinham marcado para as 12h15min, porém ela atrasou, mas não importava assim que ela chegou ele adentrou ao carro e colocou o cinto de segurança.

- Então? Para onde vamos? – Cris perguntou com aquele sorriso lindo e suas faces rosadas resplandeciam ao sol do meio dia, Jefferson estava deixando encantar-se pela moça.

- Para a delegacia, fazer o reconhecimento né? – respondeu já perguntando

- Acho melhor fazermos um lanche antes, que tal?

- pode ser – foi à resposta enquanto ela dava a partida no carro.

E assim seguiram para a lanchonete mais próxima, “Pão da manha” era o nome da panificadora mais próxima, foi ali onde eles pararam para um lanche, ela pediu um sanduiche natural e um suco de laranja, enquanto Jefferson pediu uns rissoles de queijo e presunto e uma Coca-Cola. Sentara-se a mesa e comeram em silêncio, isso levou aproximadamente uns quinze minutos, e já passava das 13h00min da tarde quando eles saíram rumo à delegacia, chegando lá o delegado estava aguardando por eles, Jefferson e Cris foram levados para uma sala escura, com um grande vidro na frente, o oficial na porta disse que não haveria perigo, do outro lado do vidro eles não sabiam o quem estava do outro site, não poderia vê-los, e assim foram trazidas seis pessoas que foram presas como suspeitas daquele crime, ficaram de frente para o vidro e Jefferson se viu face a face com o assassino de sua mãe.

- Eles estão numerados de 1 a 6, para garantir que não haja erros você deve eliminar os que não são suspeitos.

Cris abraçou Jeff neste momento como que passando energias para ele.

- É o numero três, delegado eu tenho certeza. – Jefferson jamais esqueceria os tons daquele moicano e a trança roxa caindo até a orelha esquerda.

Por um fone o delegado foi dispensando os outros suspeitos enquanto pediam a ficha do suspeito numero três, ao que parecia ele já tinha uma ficha criminal.

- Victor Bresson, preso três vezes, duas quando ele ainda era menor de idade e uma aos dezoito anos, viciado em drogas já foi denunciado duas vezes por atentado ao pudor, mas é acusação por estrupo pela primeira vez, o que não quer dizer que não tenha feito antes – olhou fixamente para Jefferson – ficou preso por três anos e estava solto há dois anos, ele agora tem 23 anos, você tem certeza de que é ele?

- Tenho, eu jamais me esquecerei.

- Mediante a isso vamos dar cabo à prisão e ao processo penal, na casa deles foram encontrados alguns aparelhos domésticos jogados, os policiais trouxeram na saída veja se tem algo que seja da sua casa e servira de prova contra ele.

- Ótimo – foi à resposta firme de Jefferson.

- Podemos ir delegado – Ouviu a voz de Cris.

- É claro, vocês estão dispensados, vamos tentar cabo ao processo o mais rápido possível.

Foi assim que eles saíram da delegacia, entraram no carro e foram para a casa de Jefferson que se ocupou até a hora da alta escola limpando os restos das coisas que ele havia queimado, juntando tudo em sacos de lixo e jogando fora, e às 15h45min saíram para a autoescola. Ele tinha algumas aulas praticas para fazer isso, e isso foi tudo por aqueles dias.





O dia do julgamento





Por incrível que pareça naquele caso o julgamento foi bem rápido, seria dentro de um mês, conforme os dias passando Jefferson continuava no ritmo escola e autoescola, ele teria que ter que testemunhar no julgamento, como não bastasse o reconhecimento que ele fez, e o passado do meliante, ele ainda teria de se envolver, o mês passou rápido, não sabia se ele era que estava ansioso ou puro nervosismo mesmo, mas todos os dias ele chegava em casa e afiava o machado, tinha comprado até uma pedra especial pra dar fio no metal do machado, havia lixado o cabo e polido a lamina até deixar tão limpa que poderia ver sua face nela, era como gostava de olhar seus próprios olhos refletidos no metal que matara sua mãe. Cris seguia os dias de manha no trabalho e as tardes com ele, Jefferson notou a preocupação dela quanto ao seu costume relacionado ao machado, por isso passou a fazer o ritual de madrugada, enquanto ela dormia, os dois tinha se aproximado muito neste ultimo mês, é o que acontece quando se vivem entre quatro paredes.

Cris era formada em administração de empresas e possuía um apartamento no centro, fora seu lindo hb20 e olhos azuis, trabalhava como assistente social há dois anos concursada, garota inteligente e bem sucedida, se viram outro dia conversando sobre a carreira que Jefferson decidiria por seguir assim que terminasse a faculdade, ele tinha pensado em muitas coisas durante muito tempo, mas tudo perdeu a importância muito rápido, e agora nesta conversa ele simplesmente respondeu “Psicologia” só por responder mesmo, e o assunto se encerrou com Cris falando que era uma ótima carreira a seguir. Ambos deram um abraço de boa noite bem apertados um no outro e foram dormir.

Dentro de uma semana ocorreria o julgamento e o tempo voou, Jefferson se viu de terno e gravata entrando no carro de Cris e indo para o julgamento, “aquela primeira parte era somente muita falação e nada mais” Cris tinha deixado escapar, apenas protocolo, depois do almoço seriam ouvidas duas ou três testemunhas, mas a de Jefferson deveria bastar, as outras duas seriam testemunhas de defesa, pouco importava, todos já sabiam que o sujeito seria condenado, e assim foi seis anos em regime fechado.

- É pouco para o que ele fez – Jefferson ouviu algumas pessoas dizer

E era realmente pouco, ele deveria ter a morte, com sofrimento ainda por cima, pena não ter pena de morte no seu estado, ele adoraria ver aquilo, os últimos meses tinham arrancado muitas emoções dele e o deixado completamente vazio, o coração começou então a se encher de rancor e um desejo por insaciável por vingança, foi em uma destas ocasiões enquanto amolava seu machado que começou a ouvir vozes, e quando olhou para o machado jurou que pode ver a face do seu pai, fora apenas um susto “a mente prega peças” disse a si mesmo para se acalmar, mas quando olhou para o espelho na parede viu sua mãe de pé, e ficou em pé em frente dela, escorria sangue por suas pernas, e suas roupas estavam rasgadas.

- Seis anos meu filho – o fantasma disse – eu acho pouco

- Sua vida ninguém pode repor minha mãe.

- Você tem limpado e polido muito bem este machado, mas sabe que meu sangue jamais sairá dele não é? – o fantasma olhou para o machado e Jefferson também, pode ver sangue escorrendo pelo cabo – Seis anos é muito pouco.

- Sim mãe, seis anos é pouco.

Quando olhou para o espelho o fantasma tinha sumido “toc toc você esta bem Jefferson” Ele colocou o machado dentro da gaveta e abriu o notebook rapidamente e então abriu a porta

- sim esta tudo bem Cris.

- Eu ouvi vozes.

 - Ah é isso, Eu estava no Skype conversando com um amigo.

- Um amigo que interessante você não tem muitos, deve ser alguém especial... – disse ela como quem deixa algo no ar

- Especial mesmo é só você Cris Sabe disso – Ele viu a garota corar imediatamente, contrastando com o roupão rosa que usava, ela tinha troca às cores das fitinhas em seu aparelho também, disse que usaria ainda por mais um ano.

- Bom boa noite então.

- Boa noite Cris, tenha bons sonhos.

Jefferson trancou a porta do quarto depois de observar a bela garota entrando no quarto em frente ao seu, olhou novamente para o espelho mais o fantasma tinha sumido, olhou para o machado, mas só via sua face e seus olhos, então se deitou para dormir, mas não teve uma noite tranquila, teve sonhos estranhos à noite inteira, onde se encontrava no meio de pessoas todas de preto e com capuz tapando os olhos, ele estava no centro de um pentagrama, e tinha sangue no machado, mas ninguém falava nada, ele olhava ao redor e só conseguia ouvir a voz de Cláudia, “seis anos é pouco”.

Acordou repetindo aquilo para si mesmo, seis anos é pouco, o sol começava a surgir no horizonte, e ele ouviu barulhos na cozinha, levantou como de costume apenas com a parte de baixo do pijama e foi até a cozinha, encontrou Cris em seu roupão cor de rosa fazendo o café da manha.

- Bom dorminhoco – A disse com aquele riso lindo

- Bom dia Milady – disse ele fazendo uma reverencia e beijando a mão dela de leve – A senhorita esta muito bela esta manha.

- você esta muito galante milorde – Disse ela e ambos riram.

Tiveram um café da manha descontraído, Jefferson tinha convencido ela que café pela manha era melhor que qualquer outra coisa, tanto que a moça havia parado com seu suco de laranja, ao menos pelas manhas, na hora do jantar sempre tinha, ele preferia refrigerante, mas tudo bem, as pessoas se adaptam.

- Então ansiosos para o teste?

- É daqui a três semanas ainda, e eu tenho aquelas duas aulas praticas que você me forçou a comprar lembra-se?

- Um dia você vai me agradecer, e é basicamente isso, mais um mês e sera oficial, Você não precisará mais de uma baba – Disse ela fazendo biquinho.

- Posso não precisar mais de uma baba – Disse ele entre um gole de café e uma mordida nas tradicionais panquecas da tia Cris – mas vou precisar de uma amiga sabe?

- Oh sir, estou lisonjeada por ser convidada a fazer um grupo tão seleto de pessoas que incluem... Quantos membros mesmo?

- Como você disse é bem seleto – ele disse em tom severo e logo quebrou o clima com um riso.

A rotina seguiu, ela o levou para o colégio, tinha mais duas semanas de aula, o aniversário de Jefferson era dia quatro de dezembro, a cerimonia e o baile de formatura estavam marcados para o dia sete do mesmo mês, era tudo muito clichê, mas ele queria fazer parte daquilo, e mais do que isso, queria levar Cris no baile, não tinha garota mais bonita que ela, e por que não? Ela já não seria sua tutora e sim sua amiga, mas tinha outras preocupações em mente também dia três um dia antes do seu aniversário seria o teste pratico de sua carteira de motorista, ele estava bem preparado e frio como o gelo, os dias foram passando rapidamente até que o dia chegou.

Fez as duas aulas pela manha e a tarde foi levado por Cris ao local do teste, demorou um pouco na baliza, mas conseguiu fazer na segunda tentativa, tinham duas pessoas junto com ele no mesmo carro fora o instrutor, mas ele foi o primeiro a sair para rua, como o protocolo mandava, o instrutor o fez dar uma volta por duas ou três quadras e pediu para que ele estacionasse e desliga-se o carro, e que fosse para o lado de trás, era a vez de outro aspirante a motorista, ao que tudo parecera ele estava aprovado, havia uma garota fazendo o teste agora, mas ela foi muito bem, o ultimo garoto passou via preferencial e esquecera o cinto de segurança, o instrutor pediu para estacionar o carro, o garoto parou em uma vaga de idoso.

O instrutor assumiu o volante e voltou para o pátio de testes onde Cris e o seu instrutor de autoescola estavam esperando, “estes dois passaram, este tem que ter mais umas aulas” Foi tudo que disse Jefferson nem teve tempo e Cris estavam o abraçando bem forte, depois disso apertou a mão do instrutor e deu um abraço de leve agradecendo pela atenção e lamentando por seu colega que teria que refazer o teste, assim foram para o carro de Cris, que passou em um mercado antes, pediu pra ele ficar no carro, ela comprou algumas coisas as quais ele não viu e deixou no porta-malas, ele já a conhecia suficientemente bem para saber que estava aprontando alguma coisa, mas ficou em silêncio e foram pra casa. Deram algumas voltas pelo centro antes, Cris passara em seu apartamento pegar roupas limpas e deixar algumas sujas, e desceu rapidamente.

Já era noite quando chegaram em sua casa e passava das 21H00M então ela tirou do porta malas uma caixinha com seis cervejas long neck e pôs pra gelar.

- Não esqueçamos que após a meia noite não sou mais responsável por você, e aqui esta seu presente de aniversário - disse ela colocando as cervejas pra gelar.

 Não era segredo para ela que Jefferson já bebia tinha algum tempo, sempre tinha uma cerveja ou outra na geladeira e ela fazia vista grossa.

- Mas esta um pouco frio para cervejas não acha?

- É seu presente você escolhe quando beber – Ela riu – Estou cansada, vou dormir, tenha uma boa noite.

- Para você também – disse a observando.
Ela tinha de aceitar seu convite para ser sua acompanhante no baile de formatura, ou ele iria sozinho, mas só faria o pedido na outra manha, tinha tempo ainda, e afinal de contas ela prometera que continuariam se vendo, continuariam sendo amigos afinal de contas.