Reino Perdido


Prólogo

- Algo tem que ser feito quanto a isso.
- Concordo plenamente.
- Já passou da hora, se minha opinião realmente importa.
Os três anciões se olharam, os olhos semicerrados e uma fumaça cinzenta saindo de suas bocas, os cabelos grisalhos caindo sobre as costas, e decisões importantes a serem tomadas, o mundo pesava sobre eles, Sempre fora assim naquele lugar.
A lua saiu cinzenta de trás dos montes, sozinha em seu reinado, noite sem estrelas, noite de maldição e de morte, longe daquelas cavernas dentro do coração da montanha algo terrível começava a acontecer, como que fosse a origem de todo o mal, mas o mal nunca se origina do nada, dentro de todos existe o bem e o mal. No entanto em dados momentos, a grande maioria optava pelo mal, quem poderia julgá-los? Sendo que o caminho mais fácil é sempre mais atraente.
E assim foi, a lua no alto sem estrelas, em poucos momentos se tornou vermelha de sangue, os anciões continuavam olhando, o mal despontava em uma nova era, e o futuro para todo o mundo seria sombrio.
- Afinal de contas onde esta ele?
- O mensageiro?
- Sim.
-Se acalme meu caro, ele logo chegara.
Um vento gelado começou a soprar, o fogo ardia para mantê-los aquecido, era a espera o que mais maltratava, era o velho sábio que não saia de seu lugar, era o oráculo que tinha sumido, e ali somente os anciões, e eles não sabiam o que fazer.
- O velho sábio tem estado quieto por tempo demais, vocês não acham?
- Ele tem feito o que sabe de melhor; Pensado. O que mais poderia fazer?- Um breve silêncio se fez após esta frase.
O cavalo dava seu máximo, guerreiro como sempre, cavalo e cavaleiro fugiam o mais rápido que podiam, seus ferimentos não importavam, tinham que cortar a noite em cavalgada, cavalo e cavaleiro dando o máximo, e sabiam que muita coisa dependia daquilo, os ferimentos doíam, é claro que doeriam. “Cada cicatriz, cada corte e cada gota de sangue, Conta uma própria historia” dizia o velho provérbio.
Cavaleiro, anciões e um povo amargurado, sonhavam com dias melhores, e por aquele objetivo em comum, até a vida dariam, e não diriam ser isso loucura, quem ousaria duvidar da coragem deles? O cavalo seguia implacável, como tinha que ser, o braço sangrava incessantemente, o mundo começava a girar, ele piscou seus olhos negros tentando mais uma vez focar o caminho, o cavalo conhecia bem o destino, tudo o que tinha que fazer era se manter firme na montaria.
E assim foi cortando noite adentro, os ferimentos a sangrar, os olhos querendo se fechar, a lua vermelha de sangue  a cima de dele, cabelos esvoaçantes ao vento, como tinha que ser, já não era perseguido faz tempo e, ainda assim cavalgava sem trégua, quando as montanhas começaram a crescer em sua frente.
O cavalo se permitiu diminuir o ritmo, para um leve trote, em logo em seguida começou a marchar, quase que sem forças, cavaleiro também, alguns homens saíram ao seu encontro, no exato momento em que ele caiu, ao tentar desmontar.
- Um curandeiro! – Alguém gritou
- Não! – respondeu em um fio de voz – me leve aos anciões.
 E assim foi feito, os anciões estavam em uma caverna, que servia como salão, sentados os três um ao lado do outro, a fogueira ao centro ardia em chamas, e estralava viva, irradiando cores vermelhas pelas paredes. Entrou na sala apoiado em outro alguém, o braço ardia de dor, disso somente ele sabia, os olhos tentando focar, procurado pelos três velhos homens, mas tudo que via era a fogueira, até que caiu novamente sobre seus joelhos.
Neste momento os três levantaram de seus acentos e foram ate ele.
- Você chegou meu jovem, têm boas noticias?
- Diga-nos logo, por favor- disse outro
- silêncio! – exigiu o terceiro – deixem-no respirar, e procurar as palavras certas.
O jovem cavaleiro agradeceu em silêncio, e levou a mão até pescoço, puxando uma pequena corda, com um pequeno embrulho.
- missão bem sucedida- alguém gritou.
Gritos de viva se seguiram antes do amanhecer, e uma parte fora concluída, uma grande parte, diga-se de passagem. Das dificuldades somente o cavaleiro conhecia, mas em nada disso pensava enquanto era levado ao curandeiro, os anciões estavam novamente em volta da fogueira, os olhos semicerrados, e o pequeno embrulho, faltava pouco, faltava o velho, o sábio, somente ele saberia o que fazer.
Mais uma vez a espera, com o tempo o velho perdeu a pressa, se nisso existia sabedoria, ninguém entendia, por o que o tempo não parava, enquanto tinha que esperar pelo velho, varias considerações na mente de todos, mas ninguém ousava falar. E lentamente o velho entrou pela sala, um homem alto e esguio, de olhos ligeiramente esbranquiçados pelo tempo, um dia foram verdes, apoiado em seu cajado.
- O jovem conseguiu não foi? Eu disse que conseguiria – sua voz era autoritária, e firme, não condizia muito com sua idade.
- É claro Nosrevelc, Como você disse.
- Desculpe nossas duvidas.
- Não devem desculpar-se pelas duvidas, as certezas que guardam o perigo -  respondeu o velho - Deixem que eu veja o que ele trouxe – Completou.
Segurou firmemente na palma de sua mão, o pequeno embrulho que o jovem trouxera, como que considerando os próximos passos daquela caminhada sem fim, ninguém sabia ao certo sua idade, nem os muitos nomes que carregava sobre si, mas poucos duvidavam de sua sabedoria e suas palavras. Apertou o embrulho em suas mãos sentindo um pequeno pingente dentro dele, neste momento o silêncio era quase que total, e somente os estalos feitos pelo fogo quebravam a concentração de alguns.
- Então se renova a esperança meus caros, hoje temos motivos para comemorar, a esperança vira de outro lugar, um longínquo lugar, sobre o qual pouco eu conheço, e nem os outros que vieram antes de mim conhecem, mas lá tem muita coragem, eu sei que tem – uma breve pausa, considerando o que aconteceria a seguir – e é de lá que vira nossa esperança.
Abriu o embrulho, e dentro dele saiu uma pequena corrente prateada, que brilhava reluzindo o fogo a sua frente, a lua de sangue começou a mudar, voltar à cor original, brilhando prata e forte a ponto de cegar momentaneamente os desavisados. Nosrevelc levantou a corrente de prata para o alto de sua cabeça, e um pingente apareceu, uma lua nova na sua ponta, brilhando e pulsando viva, reluzindo o fogo. O mago fechou seus olhos esbranquiçados e começou a falar palavras, balbuciando muitas delas, a ponto de ninguém mais entender.
O pingente do luar brilhava cada vez mais, o velho prosseguia, perdido dentro de sua mente, ninguém nada entendia, ate que parece que o tempo parou, dentro daquele lugar. Em poucos momentos os olhos do velho se abriram, ele beijou o pingente, e suas palavras todos entenderam.
-  A esperança de outrem, hoje é a nossa. A esperança se renova com sua vinda para nós, podemos vencer eu sei que podemos – novamente disse palavras que ninguém entendia jogou o pingente no fogo, e o tempo parecia seguir lentamente dentro daquelas paredes de pedra, as chamas de vermelhas amareladas, se tornaram azuis, o colar sumiu dentro de instantes tudo voltou ao normal, o dia começava a amanhecer.
- E agora?- um dos três perguntou.
- Qual o próximo passo Nosrevelc?- outro
- Nos aponte o caminho, qual a direção?
- Vocês parecem jovens - Começou o mago ainda perdido dentro de sua nebulosa mente - Nem tudo acontece tão rápido, algumas coisas têm o seu tempo certo, agora nos esperamos, vai chegar à hora de lutarmos, todos sabemos disso, mas no momento nos vamos esperar à hora certa. Não temam meus amigos, confiem, eu sei do que estou falando. Descasem e poupem suas forças, e vejam bem o que o destino nos trará, Vamos esperar.


Capitulo 1


Abriu os olhos lentamente, o sol estava começando a despontar pela janela, para mais um dia normal, como qualquer outro, contra todas as suas vontades ele conseguiu se levantar, contra todos os pesares de uma jovem vida, ou um pesadelo, assim como ele via. Deixou o sol entrar pela janela e tocar sua face pálida, é apenas mais um dia, o que teria de difícil em viver mais um dia. Porém cada dia ficava mais difícil, o peso do mundo ruía em suas costas, uma mente tão jovem, suportando tanta dor, coisas que ninguém além dele conhecia, uma brisa leve entrou por uma fresta qualquer, e balançou suavemente seus longos cabelos, dos olhos a lágrima que ele não conseguiu evitar, escorreu, Fria, salgada e doida.
Bocejou uma vez mais, parecia tão fácil viver para todos os demais, por que para ele tinha de ser tão difícil, ele nunca pedirá nada da vida, nem para nascer, tão pouco para viver daquela maneira, a qual vivia. Em um mundo particular de dor, sofrimento e solidão, pouco tempo de vida, aos dezoito anos, o que do mundo ele sabia? Quase nada, mas motivos para viver, ele não via. Ainda assim preparou suas roupas, um breve banho o esperava, como tinha que ser, “enquanto eu não deixar de viver, não devo deixar de tentar”, repetiu para si mesmo, tentando colocar aquilo fundo dentro de sua mente, mas e aquela faca fincada em seu peito, que de tempos em tempos parecia se retorcer dentro de seu coração, e sentir toda aquela agonia, infindável, qualquer dor era melhor que aquilo.
Ligou o chuveiro enquanto se despia lentamente, olhando para o espelho, seus olhos claros de um azul leve, os cabelos negros caídos em seus ombros, contrastando com o branco pálido de sua pele, um jovem normal como qualquer outro. Respirou profundamente como que juntando forças para o banho, e finalmente deixou a água escorrer pelos seus longos cabelos negros, sentindo a força dentro de si se renovando, uns poucos momentos de paz, às vezes é tudo o que precisamos não é? Paz é tudo, mesmo para quem não reconhece isso, não pode viver sem, e é sempre no banho que pensamos e repensamos todos os atos de nossa vida, e formamos planos para o futuro, planos que muitas vezes não chegam a sair de nossos pensamentos, quem se importa, planejar faz parte da vida, e vida era o que ele tinha, talvez contra a vontade, mas era tudo o que ele tinha no momento. Alguns minutos depois desligou a água do chuveiro, como estava quente, ficou observando o vapor no Box, e seu reflexo nas poças de água formadas no chão, uma toalha suave no rosto, enxugando levemente seus cabelos, os olhos fixos nos pulsos, “Saída de emergência” Como ele costumava chamar nos momentos mais doidos e de solidão.
Vestiu uma camiseta negra, justa em seu corpo esbelto, uma velha calça jeans surrada, como ele costumava usar, o velho all star estava ali sempre à disposição, já estava quase que atrasado, escovou rapidamente os cabelos, jogou a mochila nas costas, e saiu sem café da manha. A refeição era dispensável ao seu ponto de vista, começou a sua caminhada, ultimo ano do colegial, e depois tudo mudaria, disto ele estava ciente, seja qualquer que fosse sua decisão para o futuro, tudo mudaria, não havia mais duvidas, embora estivesse em cima do horário, ele caminhava sem pressa, pelo caminho as pessoas passavam em passos apertados, tudo andava demasiadamente rápido naquele mundo, e ele só desejava que o mundo parasse, até que pudesse encontrar dentro de si motivos para seguir em frente. Perdido em seus pensamentos, e em passos lerdos a caminho de qualquer lugar, onde ele não gostaria de estar.
-Pedro! – uma voz feminina soou distante.
- Espere por nós!- outra voz, mas desta vez uma voz masculina.
Por um breve momento ele olhou para trás e reconheceu à silhueta jovem e bela de Clara, Amiga de infância, adolescência, aquele tipo de amizade para toda a vida sabe, junto dele vinha Cláudio, amigo de tempos remotos também recentemente tinha assumido um namoro, e Pedro ficou ainda mais sozinho, antes três companheiros inseparáveis, mas agora ele se sentia com se não fizesse mais parte daquele mundo. Não que desejasse a infelicidade do jovem casal, longe disso, bem longe, felicidade para eles era o que ele mais desejava, ainda assim, depois do inicio do namoro, ele tinha ficado ainda mais só, ambos chegaram, breves abraços, e seguiram juntos para o colégio.
Em uma conversa descontraída seguiram, estavam na mesma sala a muito tempo, e mesmo estando os três juntos, em meio a muita gente, Pedro sentia-se cada vez mais sozinho, agora dentro da sala é que ele notava como as coisas mudavam rapidamente, em um piscar de olhos, nada mais é como costumava ser antes. Os colegas de classe estavam todos entretidos dentro de seus próprios mundos, todos com seus próprios afazeres e animados, era ano de formatura, mas do que isso, um ano de despedida. Muitos iriam embora, vai saber quem restaria naquele mesmo lugar, outros iriam para a faculdade, alguns já trabalhavam, e continuariam naquele trabalho, a aula segui-se normalmente, hora após hora, intervalo, conversas banais, rostos normais, tudo normal demais, e ele não pertencia aquele mundo.
Enfim a aula se acabou, e os três colocaram-se a caminho de casa, cada um ocupado em seu mundo particular, como deveria de ser, a vida de cada um segue um curso natural, com suas escolhas.
- quer ir à minha casa hoje à tarde Pedro?- Perguntou Cláudio descontraído.
- É, Vai ser legal. – Completou Clara -  Nós vamos ver alguns filmes, Comer pipoca, coisas do gênero.
- Tenho certeza que será, mas temo que não possa estar com vocês nesta tarde- fez uma breve pausa – Muitas coisas para fazer, tenho certeza que vocês me entendem.
Caminharam ainda por algum tempo, até que chegaram à casa de Cláudio, e ali se despediram, a casa de Pedro ainda ficava um tanto quanto longe dali, e ele apertou o passo para chegar logo, tem vezes que tudo que desejamos é estar no conforto de nosso lar, e para aquele garoto não era diferente, caminhando rapidamente perdido dentro de seus pensamentos, avistou logo à frente a entrada de sua casa.
Era um terreno de sobremodo grande, e antes da segurança de seu lar, tinha um bosque, com um caminho ladrilhado, e grama em volta, um belo lugar para se viver, passou por baixo de algumas arvores e logo alcançou a varanda, procurou a chave que certamente estaria em um dos seus bolsos, achou, girou a chave duas vezes e adentrou em seu lar, a sala grande não parecia de estar, ao menos não de “bem” estar, havia uma grande cômoda na lateral de esquerda, onde ficavam alguns poucos retratos de família, os sofás dispostos em L de frente para o aparelho de televisão, e uma mesa de centro, isso era tudo, logo a esquerda ficava a cozinha e a sala de jantar, onde todas as refeições eram servidas, isto é, quando a família estava reunida, o que era raro naquela casa, Pedro subiu as escadas em direção ao próximo andar de sua casa, onde ficavam os quartos, o seu era o primeiro a direita do corretor, na porta uma placa com seu nome, e data de nascimento. Abriu a porta, e trancou após si.
Jogou-se na cama de qualquer jeito, uma boa cochilada era tudo o que ele precisava para sentir-se melhor, e o sono logo veio carregado com os mesmos pesadelos de sempre, onde Pedro se encontrava em outro mundo qualquer, fora de sua compreensão, como que fosse outra dimensão, via tudo de forma engraçada, como se estivesse embriagado. Muitas arvores, deveria haver algum córrego de água naquele lugar, o ele ouvia claramente o som de água a correr, sentia-se cansado, era difícil de respirar, em seu pesadelo sentou-se em desespero, um desespero estranho de quem não sabia onde estava, o desespero de estar perdido, mas não de estar sozinho, esta agonia bem lhe era familiar.
Normal para si a solidão, acordou de sobressalto, rosto todo suado e mãos frias, era somente um pesadelo, ”somente um pesadelo” repetiu em voz alta para si mesmo tentando se certificar e ter certeza daquilo, mas era sempre o mesmo pesadelo, muito estranho, se repetia a cada noite, a cada momento de sono, queria dizer algo? É claro que não, os sonhos nada diziam, olhou pela janela, e logo depois seu relógio, três horas da tarde, saiu sem destino.
Passos lentos enquanto cortava o bosque em frente a sua casa, onde pássaros cantavam alegremente, o gato passou rápido por suas pernas, Pedro vestia uma calça preta, justa a seu corpo, e uma camiseta de manga comprida da mesma cor, o cabelo estava jogado para trás, e conforme o vento ia de encontro a ele, chicoteava suas costas. Continuou lentamente, passando pelo velho portão de madeira, alcançando finalmente a rua, e ali seguiu sem destino, passando por ruas conhecidas, outras nem tanto, sempre em frente, como dizia a canção, sem perceber que a noite caia.
Alcançou um gramado no topo de um pequeno monte, chegando a um mirante, e sobre uma pedra se sentou, o sol lentamente começou a descer no horizonte, lá no limite, onde ele beijava o chão, aos olhos humanos era o que ocorria, cena poética, mais um poeta perdido a observar o pôr-do-sol, mais do que isso, perdido dentro de seus pensamentos, uma confusão, um saco de idéias prestes a explodir. Tudo é caos, fechou os olhos e em um segundo desejou que tudo se finda ali, uma vida tão nova, e achava que já estava bom demais. Vivera tempo demais, um pai desconhecido, uma mãe distante e uma vida em vão. Aquilo era vida? Se for, então é  uma vida que não merece ser vivida, dia após dia apenas sobrevivia.
Abriu os olhos novamente, pareceram poucos segundo que ele os tinha fechado, mas alguns minutos se passaram, o crepúsculo da juventude eterna começou a reinar pelo mundo, a noite tinha toda uma magia, deixava as coisas bem mais bonitas, a lua de prata começava a brilhar no leste, e a primeira estrela surgiu, ele ali sentado, sentindo a brisa bater em seu rosto, balançando os seus cabelos, sentiu o corpo amolecer em um momento, e perde-se olhando o luar, como que em hipnose, aquele brilho morto do luar refletia em seus olhos azuis. Por um tempo tudo em sua mente ficou vazio, e ele encontrou a paz que tanto cobiçara. Por alguns minutos se permitiu sorrir, e como era belo seu sorriso. Os sorrisos mais belos se encontram nos lábios de quem conhece a tristeza, e é verdadeiro com seus sentimentos, este era Pedro, um rapaz comum como qualquer outro, tendo uma vida comum, tentando sempre seguir em frente.
Foi neste momento que do céu, alguma coisa caiu, lentamente como uma folha, caindo perto de seus pés, e ele ainda com o sorriso no rosto, perdido a olhar o luar, radiante e belo, brilhando cada vez mais forte, o que antes era um brilho morto, agora chegava a ofuscar seus belos olhos azuis, o brilho do luar refletiu algo no chão, ou era algo no chão que refletia um brilho no céu, os olhos baixaram lentamente para o chão, uma pequena corrente de prata, e nela presa, brilhante, radiante, um pequeno luar, brilhando tão intenso quando a do céu.
De prata tão bela, e Pedro logo o apanhou para si, um amuleto qualquer, uma coisa qualquer, inútil talvez, bem apropriado, um colar inútil, um garoto inútil, uma vida inútil.
Era hora, nem sabia que horas era, mas era à hora, ele tinha de ir embora, levantou-se lentamente como tinha de ser, tudo tinha seu próprio tempo, e isso ele tinha que aprender se pôs em caminhada, e o que era uma leve brisa, agora é um ar gelado, cortando a face, seguiu seu caminho, com o colar de luar no bolso de sua calça, andou um pouco mais rápido até alcançar o velho portão de madeira, frente de sua casa, os tons escuros criados pela noite, e as sombras lançadas devido à luz do luar, tornavam a paisagem um tanto quanto sombria, e lá ao longe a luz fraca da casa a brilhar. Não que tudo aquilo o assustasse, pôs nada assusta quem cobiça um encontro com a morte, o belo e destemido Pedro estava ali, encarando a escuridão.
Abriu o velho portão de madeira que rangeu sobre seu toque, entrou para o velho bosque de sua casa, passo a passo foi avançando pelo gramado, passando por entre as arvores, e por um minuto pensou ver um vulto a observá-lo, a mente às vezes brinca conosco, balançou a cabeça para colocar as idéias no lugar, outro passo, e algo pareceu se mover, olhos vermelhos de sangue brilharam por entre as folhagens de uma moita qualquer, Pedro sentiu-se inebriado  de repente, as idéias se tornaram brancas, e ele caiu no chão. Não sabe quanto tempo passou, mas quando abriu os olhos tinha a impressão de estar sendo observado pelos mesmos olhos vermelhos de outrora, tentou levantar-se, mas estava atordoado, ficou ali mais alguns segundos, até que seus pés ganharam forças, finalmente levantou-se, olhou cuidadosamente em volta de si, e nada havia, somente ele, a escuridão e o silêncio.
Apertou o passo e foi rapidamente até a porta de sua casa, abriu e logo que entrou, a trancou após si. Estava seguro.
Os únicos sons que se ouvia naquela casa, vinham da cozinha e um cheiro muito tentador também, Márcia, sua mãe deveria estar em casa, em raras ocasiões eles se encontravam, tentou subir as escadas rapidamente, tentando ignorar a presença dela, era mãe é claro, mas não fora ele quem escolhera isso, alias não foi ele quem escolheu muita coisa nesta vida, e se pudesse escolher, nem a vida escolheria.
Terminou de subir as escadas rapidamente, e fechou a porta após si, ficou longos minutos olhando o luar pela janela, puxou a cadeira e sentou-se, puxou alguns acordes em seu velho violão, e se demorou ali longos minutos, cada acorde um sentimento, cada dedilhada era poesia pura. Este era ele, Pedro, garoto da vida, vivendo perdido no mundo, correndo na contra mão, dezoito anos uma vida inteira pela frente, era o que todos diziam, mas quem realmente o entendia? Quem realmente entende a tristeza que vem do fundo da alma, continuou ali dentro do seu quarto, sua pequena fortaleza da solidão, olhou para as paredes os pôsteres de rock, juventude e rebeldia.
Toc toc duas batidas na porta o tiraram de seu pequeno mundo – Pedro venha jantar.
Acabou sua reflexão, ele permaneceu em silêncio desejando desaparecer naquele momento, e nunca mais viver para ver outro dia igual aqueles, todos aqueles que martelavam sua mente, ouviu os passos descendo a escada, e nada mudou, não saiu de sua inércia. Exatas, humanas, e ele exausto em meio tudo aquilo. Resolveu descer, o que de tão ruim poderia o aguardar em uma mesa de jantar.
Um desastre era isso que o aguardava, sua mãe estava sentada na pequena mesa quadrada no centro da sala de jantar, sua aparência tão jovial, não deixava transparecer que era mãe e ainda por cima de um garoto de dezoito anos de idade, quem poderia dizer, Márcia era uma mulher alta de corpo esbelto, andava sempre de cabeça erguida, cabelo bem aparado e franja sobre o olho esquerdo. E ao lado outro garoto qualquer, e na mesa, Pedro não ousou sentar-se.
- Pedro, sente-se, por favor, conhece Vitor, um amigo meu.
- Desculpe-me mãe, mas não estou me sentindo bem, vou jantar no meu quarto.
Pedro pegou um pacote de bolachas na dispensa e começou a subir as escadarias novamente, e foi somente ao abrir a porta de seu quarto que ouviu outros passos subindo pela escada, implorou aos deuses que fosse coisa da sua mente, apenas queria alguns momentos de paz, não precisava falar com ninguém naquele momento, tudo o que precisava era o silêncio, mas o destino iria o impedir desta vez, mais uma, ao tentar fechar a porta uma mãe a segurou.
- Pedro, Precisamos conversar, nós já não nos vemos há algum tempo, o que esta acontecendo contigo?
- Não é isso mãe, só não quero conhecer outro namorado seu.
- Você poderia tentar me entender você não acha?
- E o que tem para ser entendido? Não tente fingir que somos uma família, eu não gosto de você, e ti por sua vez, sempre me odiou.
- Todos têm pecados Pedro, todos erramos, entenda isso.
- É o mal da humanidade não é? Aceitar erros e mais erros, e quando achamos que tudo esta certo, vem outro erro, e seu pior erro foi gerar um filho não foi – Márcia tentou falar algo, mas Pedro continuou – Nós sabemos muito bem que você não me queria neste mundo, que eu fui um erro na sua vida, afinal você é humana não é? – tentou segurar as lágrimas, falhou miseravelmente.
- Sim Pedro, você foi o pior erro da minha vida, mas todos têm que aceitar os erros, e conviver com eles, assim como eu convivo com você.
- por favor Márcia, guarde suas mentiras para ti, você voltou ano passado após a morte de minha avó, apenas para ficar com a casa não é? – Pedro torceu o pescoço para o lado e fechou os punhos, como fazia quando a fúria tomava conta de si – então se cale e saia de minha frente.
- Cada dia tenho mais certeza que você foi um erro, nunca será meu filho.
- Como se eu quisesse ser.
Bateu a porta quando ela deu as costas, Pedro ligou o televisor em um canal qualquer, só precisava limpar sua mente e deixar a fúria passar, era tudo o que ele precisava fazer, mas nem sempre conseguimos agir como desejamos, e a raiva começou a tomar conta dele, sentiu o peito arder de fúria, misturado com aquele vazio sem fim, aquele vazio que sempre estivera ali, quanto tempo ele tinha adiado aquilo? O momento era diferente, pedia uma atitude, ele estava tão cansado de tentar, e após a partida de sua avó, sua avozinha que o criara desde a juventude, seu chão desabara, seu castelo ruirá, e o pouco que fazia sentido, já não fazia.
Sentou-se e respirou profundamente, enchia os pulmões de ar e esvaziava, esperando a dor diminuir, mas nada, e a raiva só aumentavam, raiva do mundo, raiva de si, e um desamor apoderou-se dele de tal maneira, a decisão finalmente veio, demorou tanto tempo, durante tanto tempo ele segurou aqueles sentimentos somente para ele, e tudo se tornou uma bola de neve gigantesca, e aquilo o esmagaria. A decisão fora tomada, aquilo deveria acabar ali.
Levantou-se lentamente, agora a pressa já não importava mais, abriu a gaveta de seu armário, e lá estava seu estoque particular, tudo tinha sido preparado por tanto tempo que não haveria erro, o kit suicídio, muitos remédios misturados deveriam bastar para acabar com uma vida inútil, e em ultimo caso estava ali também, uma lamina muito bem afiada, os pulsos, o sangue, a ultima opção, a saída de emergência.
E pílula após pílula ele engoliu, dentro de alguns minutos sentiu o corpo começar a amolecer, e a mente escurecer aos poucos, ainda haviam muitas pílulas, e ele continuou a colocar elas garganta a baixo, retirou lentamente a camiseta, tinha ficado tão quente o seu quarto naqueles minutos, retirou também o amuleto da lua, que havia prendido em seu pescoço, e largou junto aos comprimidos sobre o criado mudo.
O abajur estava ligado, juntamente com a televisão, do andar debaixo vieram risos de descontração, ele estava só, finalmente só, e logo estaria só vagando pelo mundo dos mortos, se permitiu fechar os olhos mas não ousou pensar, e se caso ele desistisse? Seria considerado fraco, e somente chamaria atenção, e isso, ele não queria. Abriu os olhos novamente, sentindo que tudo estava girando, e colocou os últimos comprimidos em sua boca, engoliu e fechou os olhos.
A morte é tão estranha, lá estava ele em meio a escuridão, e viu que aquela escuridão era seu viver, estava em pé, e ouvia novamente o som da água, o córrego, estava mais uma vez naquele mesmo sonho, o sonho de sempre, havia um ponto brilhante ao longe, uma luz forte, e tudo a sua volta era breu, não conseguia enxergar nada claramente, e muitas vozes, tantas vozes misturadas e sussurrando ao mesmo tempo, que ele nada entendia. No meio de todo aquele caos, olhou para o chão, uma leve brisa gelada chicoteou seu rosto, a luz brilhou novamente, parecendo chamá-lo, seguir a luz, as vozes agora diziam claramente. Seria aquele o mundo dos mortos? Algumas pessoas esperavam obter respostas após a morte, mas não ele. Se da vida ele nada esperava, por que esperaria algo da morte. Seus pés começaram a levá-lo automaticamente, passo após passo, se aproximando da luz.
Os pés iam automaticamente, caminhando para a luz, e ele não conseguia parar, mas havia algo de bom naquilo, ele não sentia nada, estava completamente vazio de sentimentos, e isso era bom, os sentimentos nos confundem as vezes, passo após passo ele caminhava naquela direção, a luz que antes era somente um pontinho fraco no horizonte, ficava cada vez mais forte, piscou os olhos tentando descobrir se aquilo era real, reconheceu as silhuetas de Clara e Cláudio, eles caminhavam juntos, Clara a sua esquerda e Cláudio do outro lado.
-Pedro, Você é mais que isso.
-Nós precisamos de você meu caro, não pode desistir agora – completou Cláudio
-Nos de sua mão Pedro agora- Foi a doce voz de clara quem falou aquilo.
Pedro piscou os olhos uma vez mais, e quando abriu novamente estava caído no chão, e sem entender muito bem o que acontecia naquele momento.
-Vamos cara, Acorda. – era a voz de Cláudio.
Ele sentia uma náusea descontrolada, e começou a vomitar, o chão estava todo sujo, imundo e um odor quase que insuportável subia no ar.
- Por que você vez isso Pedro, deveria ter ligado, contado o que acontecia, nos somos amigos podíamos ajudar- Era clara.
-Com, Como, Como descobriram?
-Você não foi para o colégio, não atendia as ligações, viemos para cá depois da aula cara.
-O que aconteceu Pedro, conte – Clara insistia, mas Pedro só fazia vomitar, a qualquer momento ia acabar colocando o próprio estomago para fora.
O resto do dia passou daquele jeito, um plano fracassado, passando mal e vomitando, sentindo-se menos que nada, nem para morrer servia, um fracasso total. E agora ainda tinha que contar com a compaixão de seus melhores amigos, o seu estomago se revirava, em um movimento involuntário, e a vontade de morrer continuava ali.
Naquela noite Cláudio iria posar ali, após limparem toda aquela sujeira, e longos minutos de silêncio, um silêncio quase que total, Pedro não queria se explicar, pediu isso a Cláudio, e ele aceitou. Pedro estava considerando novamente o que acontecera na tentativa de suicídio, deveria haver algum sentido naquilo tudo, deveria haver algo maior decidindo seu destino, ele queria muito descobrir do que se tratava. Suicídio não tentaria mais. Ao menos não até descobrir se aquilo fazia algum sentido.
Foi uma noite em claro, e por mais que tentasse o sono fugia dele, estava ali deitado olhando pela janela, o céu estava todo iluminado pelo luar, brilhava prata e intensa, mais uma vez estava hipnotizando Pedro, foi neste momento que seus olhos se desviaram para o criado mudo, onde estava seu pequeno amuleto, também com uma lua, e, não sabia como aquilo era possível, o pequeno luar na ponta de seu amuleto, brilhava também, tanto quanto o luar lá fora.
Se desligou de tudo, colocou novamente o luar no colar em seu pescoço, e sentiu o metal frio encostar em seu peito nu, ainda brilhando, Cláudio dormia e nada notava, Pedro em transe fechou os olhos, e entrou em seu sonho novamente.
Se encontrava no mesmo lugar onde estava na noite passada, mas sem as vozes, e a luz que brilhava era a do luar, surgindo atrás de algo que parecia com uma montanha, haviam várias arvores, e o único som que ele ouvia era o do córrego, sentou-se com as pernas cruzadas e ficou olhando o luar, saindo de trás do monte e brilhando cada vez mais forte, em seu peito nu outro luar brilhando também, ele sentia sua mente vazia.
O tempo passou e a lua subiu bem alto no céu, ele permaneceu ali dentro do seu sonho, imóvel, até que uma silhueta surgiu a sua frente, caminhando lentamente em sua direção, conforme foi se aproximando Pedro foi distinguindo aquela silhueta feminina, estava com um vestido branco, refletindo a luz do luar, seus cabelos balançavam na suave brisa, seu rosto era jovial e muito bonito, os olhos de um verde vivo, o tom de verde mais puro que Pedro já vira em toda sua vida.
- Não tenha medo-  Sua voz era musica-  Venha para nós, cuidaremos de você.
Ela ajoelhou-se na frente de Pedro e tomou sua face entre suas mãos, ele sentiu o suave toque, e ali sem reação permaneceu em inércia. Pedro olhou em volta por um minuto, e notou ao seu lado vestes novas e uma lamina, uma espada, brilhando para ele.
-Venha amanha sem falta.
A mulher levantou-se, deu um beijo suave em sua testa, e partiu novamente, tão misteriosamente como viera, partiu, a lua começou a se apagar do céu, e Pedro acordou em sua cama, com o sol já nascendo no horizonte, sentiu o estomago revirar, e vontade de vomitar novamente, foi assim que ele correu ate o banheiro, com o sonho na cabeça, borboletas no estomago, e uma vontade imensa de encontrar novamente aquela mulher, sobre a qual nada sabia.


Capitulo 2

O despertador os acordou no momento exato em que Pedro relembrava os traços angelicais da moça de seu sonho, bocejou uma vez mais antes de ir tomar banho e vomitar, não necessariamente nesta ordem, Cláudio já estava de pé, como era um velho amigo conhecia toda a casa e esta hora já deveria estar na cozinha preparando seu café da manha.
Pedro ligou o chuveiro e regulou a temperatura mais alta que sua pele agüentava, aquilo o fazia pensar melhor e colocar a cabeça no lugar, e embora seu corpo estivesse imóvel enquanto a água caia sobre si, deixando seus cabelos pesados, sua mente estava imersa em mil pensamentos, de uma coisa estava certo, já que nem morrer conseguira, deveria ser forte e esperar, até a morte chegar, e ela chega para todos.
Ficou embaixo do chuveiro fazendo questionamentos sobre sua vida durante uns 20 minutos, ao notar no seu pescoço novamente a lua, em um colar, lhe caiu bem no peito nu, notou ao encarar-se no espelho, jogou os longos cabelos escuros para trás, colocou um sorriso no rosto e vestiu-se, somente então desceu para comer alguma coisa, alguma fruta serviria, encontrou com Cláudio na mesa da cozinha, comendo uma coisa qualquer.
- Bom dia Pedro - Cláudio disse, começando uma conversa qualquer – Dormiu bem?- ele continuou como se nada tivesse acontecido.
- Bom dia, eu dormi- Pedro não tinha o menor interesse em continuar com aquele assunto - Eu vou ficar bem.
- Precisamos conversar sobre...
-Não, não, Nós não precisamos Cláudio.
- Mas o que aconteceu foi grave...
-JÁ CHEGA!- a voz de Pedro rasgou a paz do ambiente como um trovão, e o soco que acertou com o punho fechado na mesa foi um ponto final na conversa.
De sobressalto Cláudio colocou-se em pé na defensiva, em seu olhos escuros ficou estampado o espanto pela atitude a qual Pedro havia tomado naquele momento, o cabelo de Cláudio não era longo, era raspado dos lados e longo em cima, de maneira que algumas mechas claras de cabelo lhe caiam sobre o olho direito, seu nariz quase que pontiagudo e arrebitado na ponta lhe atribuía um tom austero, seus olhos se espreitaram de repente e ele olhou para Pedro quase como que um pai olha para o filho. Seu semblante severo e pálido, seu corpo se tornou rígido como que se preparando para uma briga, seu peito era largo e forte, vestia uma camiseta azul claro bem justa, e que tornava visível o volume dos músculos em seus braços, no caso de uma briga, ambos sairiam bem machucados, embora Cláudio fosse um pouco mais baixo que Pedro.
- Pedro somos amigos
- Então seja meu amigo Cláudio, e não toque mais no assunto.
- Mas você tentou se matar cara.
- E nem isso consegui não foi?
- Por que não era hora, todos tem uma hora, você deveria Sab...
-Eu deveria saber? EU DEVERIA SABER, Não Cláudio! - Pedro esbravejou novamente, e o tom em sua voz deixou claro que estava preparado para qualquer coisa – Eu não deveria saber de nada, agora se você é meu amigo, só precisa saber que ontem a noite eu errei, e eu não quero errar novamente então, por favor, apenas confie em mim ok? Pode ser?
O punho de Cláudio estava fechado, e seu corpo estava tenso retirou algumas mechas de cabelo de cima de seu olho, e fitou Pedro com olhos severos, girando seu pescoço para o lado direito, o que fazia somente quando estava nervoso e sem saber ao certo como agir, o que não era nada bom, dos três Cláudio, era sempre quem estava com a cabeça no lugar, sempre ele que tinha a palavra certa para cada ocasião, e se ele não sabia como agir, obviamente a situação estava a um passo do completo caos.
- Esta certo então Pedro, somos amigos ainda, eu acho! - abriu suas mãos e gesticulou uma coisa qualquer, e sem sentido com as mãos como sempre fazia  – Você não esta vestido para ir a aula, estou vendo, e acho que quer ficar sozinho não é? Então estou de saída, bom, você sabe onde me encontrar não sabe?
Pedro fez que sim com a cabeça e seus olhos estavam fixos nos olhos de Cláudio, que abaixou a cabeça, pegou a bolsa que estava no chão ao lado da geladeira, olhou novamente para Pedro “Até mais meu amigo” e saiu batendo a porta após si, Pedro sentou-se na cadeira e apanhou uma maçã do cesto no centro da mesa natureza morta.
O tema natureza morta foi sempre algo que o fez pensar em muitas coisas, fizera a escolha errada noite passada, na hora errada, tudo errado, e agora tinha que arcar com suas atitudes, sobreviveria de qualquer maneira, tivessem Clara e Cláudio chegado ou não. Tomara uma atitude errada, e agora pagaria por seus pecados, quaisquer que fossem estes pecados, levantou-se com a maçã na mão e deu uma mordida de leve nela, foi até a sala e sentou-se no sofá, em seguida ligou o aparelho televisor, não que quisesse assistir a programação, apenas a ligou, isso diminuía a sua solidão.
Por que as pessoas tinham aquelas vidas? Sendo que muitas delas odiavam tudo aquilo, passando os dias em empregos que não gostam, ganhando dinheiro para comprar coisas das quais nem precisam, e com toda certeza a maioria destas pessoas tiveram outros sonhos em sua juventude, onde estavam aquelas pessoas que um dia quiseram mudar o mundo? Em qual parte da estrada elas tinham perdido a essência de si mesmo. “não será assim comigo” Pedro sozinho com seus pensamentos mais uma vez.
Os desenhos já tinha passado todos, e o dia seguia de tal modo que Pedro nem notara, a manha se estendeu sem mais acontecimentos que mereçam registros, e por volta do inicio da tarde. “Toc toc toc”, foram somente três batidas na porta, o suficiente para tirar Pedro do seu transe, o televisor ainda estava ligado, passando algum programa de jornalismo chato, todos os programas de jornalismo era iguais naqueles dias, só tragédias.
Era Clara, ele deveria saber que ela iria chegar alguma hora ou outra, isso era parte das conseqüências sobre as quais tanto pensara, sobre pagar por seus pecados, ele tinha que se explicar para ela, embora não quisesse, tinha de ser feito. Agora estavam sentados lado a lado no sofá de sua sala, Pedro tomava água, e clara ostentava um belo copo de refrigerante bem gelado. E o silêncio prevalecia, ele tinha os olhos fixos no chão, enquanto tomava outro gole de sua água gelada.
- Escuta Pedro, Não precisamos falar sobre o que aconteceu outro dia, você sabe - Clara quebrou o silêncio que tanto incomodava naquele momento – Mas Claudio me contou o que aconteceu hoje pela manha, então eu vim. Eu só preciso saber que você esta bem, e que vai ficar bem. Então... me faça acreditar!
Pedro deixou o silêncio prevalecer novamente, enquanto media cada palavra que saiu da boca de clara, ele não tinha todas as respostas naquele momento, e talvez nunca tivesse todas as respostas, mas tinha que dizer algo, e nos últimos dias Pedro aprendera que não importa o que aconteça em sua vida, o mundo nunca vai parar para que você chore em paz, se escolher por sorrir, o mundo ira sorrir com você, escolha chorar, e estará sozinho, esta é a verdade.
- Estou e vou ficar bem! - finalmente disse algo, enquanto molhava novamente os lábios com outro gole de água - Você e Cláudio tem sido ótimos amigos Clara, espero que saibam disso, e me perdoem por não ter sido tão bom assim.
-Ora Pedro não é assim! - ela interrompeu com aquela voz de seda maravilhosa que tinha - Você tem sido um ótimo amigo também, o que acontece é que todos erram.
-Obrigado Clara - Pedro ficou com os olhos baixos por um segundo - Mas acho que preciso passar por isso sozinho, se me permitirem.
- É Claro querido.
Ela levantou-se e Pedro fixou os olhos nela novamente, e a viu como não via a tempos, seus cabelos ruivos penteados em um Chanel , e aquela franja bem desenhada no meio de seus olhos,os olhos de uma tonalidade azul bem clara e toda a beleza de sua jovialidade, um contraste mágico acontecia entre o azul dos olhos dela, e o vermelho dos cabelos, ela sempre usava roupas escuras, o que destacava bem sua pele branca, tudo nela era perfeito, até o nome, Clara, Seu nome era Clara.
- Obrigado Clara, e peça desculpas ao Cláudio por mim.
- Tudo bem Pedro, nos veremos por ai.
Pedro terminou de tomar sua água e em seguida levantou-se para acompanhar sua amiga ate a porta, mas foi mais que isso, saiu com ela e caminhou pelo bosque em frente a sua casa, era um belo entardecer de outono, o vento batia forte balançando as folhas nos galhos das arvores, foi um logo abraço, e então ela se foi, deixando Pedro novamente sozinho dentro de seus pensamentos, sentou-se com as costas confortavelmente na árvore, e ficou ali a observar aquela tarde poética de outono.
No momento em que os últimos raios de sol despontavam no horizonte, ele trancou a porta de casa e saiu sem destino, havia algo nestas caminhadas de entardecer que o acalmavam, seguiu pelas estradas daquela cidade, que há tanto tempo conhecia e desconhecia ao mesmo tempo, rostos familiares e desconhecidos, de uma maneira tão singular, já havia algum tempo que o sol tinha sumido no horizonte, e no lugar dele brilhava no céu uma lua de cristal.
Pedro tinha os olhos fixos no luar, e andava normalmente, como na noite passada mas apenas caminhava, sem parar ou se distrair, caminhava hipnoticamente, a noite já estava bem longe, e a lua estava alta no céu, mas ate caminhar sem destino pode ser perigoso em um mundo que anda tão rápido, e nunca, nunca nos concede a paz tão desejada, assim ia Pedro não sabia mais se pela calçada ou pela rua, apenas seguindo aquele brilho vivo do luar.
“Biiiiiiw” Uma  buzina o tirou de seu estado de hipnose, estava no meio da avenida principal da cidade, em frente as luzes altas de um carro e muitas pessoas o olhando sem saber o que acontecia, ele olhou para os lados perdidos, quando a porta do carro se abriu, e um homem saiu de lá, olhou fixamente Pedro por alguns segundos.
- Você é louco meu jovem?
- Me, Me me desc, desculpe.
Foi o melhor que ele pode balbuciar e saiu correndo, sentindo muita vergonha, havia caminhado por muito tempo, e agora corria sem saber qual direção tomar, correu como se não houvesse amanha, e quando sentiu que não tinha mais forças, correu ainda mais rápido, até que chegou a entrada do bosque da casa onde morava, sem saber como ou porque escolhera aquele caminho, tão pouco como o fizera tão rápido. Com o pulmão quase que pulando por sua garganta a fora. Abriu o portão afobado como sempre, e pulou pra dentro do terreno, e novamente a lua estava lá, avançou alguns passos para dentro do seu bosque, dentro do seu mundo.
E a lua voltou a hipnotizar ele com aquele brilho intenso, parecia que era somente para ele, a respiração era pesada e a paz tão desejada parecia um pouco mais perto agora, até que o brilho da lua o arrebatou por completo, quando notou que a pequena corrente de prata que trazia em seu peito parecia vibrar ao mesmo tempo irradiando um brilho, e parecia brilhar tão forte quanto o próprio luar, Pedro já não sabia o que era real e o que era sonho, mas estava ali, olhando fixamente para o luar em seu peito, que brilhava agora, tão intensamente que parecia ofuscar o luar acima de si.
Pedro começou a sentir-se como se estivesse flutuando, suas pernas já haviam amolecido há muito tempo, ele poderia ter corrido para dentro de sua casa, mas suas pernas não obedeciam, finalmente o brilho forte o cegou completamente, e de repente tudo era branco, e no meio de tudo aquilo uma silhueta começou a caminhar em sua direção, no começo era apenas um borrão em meio ao branco, mas conforme foi chegando mais perto assumiu uma aparência terrível, Pedro começou a sentir medo, a paz de repente foi embora, e no lugar dela havia aquele medo, o vazio de seu peito começou a se transformar em aperto. E foi neste momento que aquela sombra terrível chegou mais perto.
- Pobre garoto, vindo de tão longe apenas para morrer – disse a sombra enquanto segurava firme em seu pescoço fazendo com que ele perdesse por completo os sentidos.


Capitulo 3

Suas ultimas lembranças fora do terror de não ter ar dentro de seus pulmões, piscou os olhos varias vezes mas não via nada, era tudo um breu, havia um nó em sua garganta que foi passando aos poucos enquanto ele perdia suas forças, colocou ambas as mãos em volta a pesquisa numa vã tentativa de se desfazer de “mãos invisíveis” que o enforcavam, quando de repente o ar voltou, e ele se encontrou ofegante tentando entender o que aconteceu, tossiu um pouco e ainda demorou até que os olhos começaram a se acostumar com a escuridão. Ele sentou-se no chão ainda desnorteado, o bosque em frente a sua casa estava com traços irreconhecíveis e havia um som de água corrente, ficou imóvel observando as sombras, ouvindo os sons e nada fazia sentido.
Naquele momento notou o luar surgindo por trás de uma nuvem no céu, um ponto luminoso em meio a toda aquela escuridão, uma luz embora aquilo não o tivesse trazido tanta tranqüilidade quanto achou que traria, já era algo, uma luz para quem esta perdido em meio a trevas já é alguma coisa, os sons da noite também transmitiam calmaria, um coaxar de um sapo aqui ou ali, um grilo qualquer e a água corrente, Pedro sentia muita sede olhou a escuridão procurando alguma outra luz, um caminho que o levasse até a porta de sua casa, mas não havia casa não havia caminho, somente arvores e mais arvores, naquele momento ele seria capaz de beber água do rio, mas estava indeciso em sair da-li, ou simplesmente esperar escuridão passar, procurou nos bolsos pelo celular a lanterna seria bem útil naquele momento, achou no bolso, tela quebrada aquela velharia do século passado, mas a lanterna funcionou normalmente, e foi assim que ele conseguiu analisar um pouco melhor a situação.
Parecia estar em uma floresta, não era o bosque de sua casa como fora parar ali era o mistério a ser respondido no momento, mas entre tantas perguntas quem se importa com um detalhe pequeno destes não é mesmo? Tentou levantar-se mas sentiu vertigem e uma dor alucinante na cabeça, ao por a mão constatou que estava sangrando um, mas não lembrou de como conseguiu aquele machucado, coitado não lembrava de nada. Com muito esforço ficou de pé e deu alguns passos, algo se moveu na floresta
-                      Ele deveria estar morto – Alguém sussurrou.
-                      Não importa, vamos embora – uma voz rouca soou em resposta – Não é nosso problema.
Pedro não conseguiu raciocinar nem falar nada, somente ouviu os passos se apressarem em meio a escuridão e logo se viu sozinho novamente, a cabeça latejava, jogou os cabelos para trás e cambaleou em direção do som da água, naquele momento o céu estava começando a ficar limpo e a lua estava alta.
Demorou algum tempo desviando de moitas e arvores, tentando ver onde pisava um animal ou outra corria entre as folhagens, isso ele ouvia, um vento gelado cortou seu rosto, notou que estava somente de camiseta, mas seu corpo estava quente, chegou até o riacho finalmente, que nada mais era que um fio de água, ajoelhou-se e juntou as mãos para beber água, ele tinha tanta sede, bebeu quase mais que um litro de água, somente então jogou água no rosto, quem sabe aquilo acaba-se o acordando de seu pesadelo, sonho ou qualquer coisa que fosse aquilo! Molhou os longos cabelos também limpando o sangue, achou um pequeno corte atrás da orelha, nada demais. A dor deve diminuir com o tempo, o tempo é remédio para tudo que não temos remédios afinal, suspirou firme e olhou ao redor, havia uma clareira perto do fio de água, e foi ali que buscou refugio, afinal parecia inútil ficar zanzando na escuridão, começava a esfriar.
Chegando a clareira sentou-se e pensou em como fazer fogo, a teoria ele sabia mas e a pratica, antes fosse fumante, com certeza teria um isqueiro em algum bolso, mas como o frio estava aumentando decidiu tentar mesmo assim, juntou algumas folhas secas e gravetos, colocou no chão um pouco distante de arvore, e começou a girar um pedaço um pouco mais grosso de madeira seca contra outro.
Nos filmes parece ser tão fácil, mas não foi e demorou muito tempo até conseguir ver um pouco de fumaça saindo da madeira, começou a girar o graveto com mais força até a mão ficar esfolada, mas depois de muito tempo conseguiu, sim a fogueira ardia e espantava o frio, podia ver melhor em volta também, parecia haver algumas montanhas no horizonte, alguns kilometros após o riacho.
Encostou na arvore e se deu ao luxo de fechar os olhos por um tempo, a cabeça doía e os músculos dos braços doíam, as mãos sangravam, mas o fogo ardia e era somente isso que importava, começou a tentar recordar o que havia ocorrido, ele tinha saído para dar uma volta pela cidade, pensar na vida, com o colar no pescoço, e o brilho da lua de alguma forma o ofuscava, lembrava até da parte de chegar no bosque de casa e ter apagado, depois do clarão tudo foi breu, quanto tempo passou ele nem sabia dizer. Tão pouco como havia chegado ali, e onde era ali?
Ficou tudo em silencio exceto pelo fogo a estalar, o calor deixou ele mais confortável, e aos poucos foi adormecendo, dormir é sempre bom, a dor passou enquanto dormia, e foi assim que aconteceu aqueles momentos.
Sentiu a pele tremer de frio e acordou de sobre salto, o fogo estava somente em brasas, começou a assoprar desesperado para que ele voltasse a acender, jogou mais alguns gravetos e folhas, e não ousou fechar os olhos outra vez naquela noite, ficou acordado até o sol aparecer e por muito mais tempo ainda depois disso... nada fazia sentido


Capítulo 4


Os primeiros raios de sol despontaram em um novo horizonte e Pedro estava exausto, mas respostas tinha de ser obtidas quaisquer que fossem os custos de tais respostas, então colocou-se de pé e sentiu novamente a cabeça latejar, mas aquela altura não podia se dar ao luxo de continuar parado no mesmo lugar, ele tinha que caminhar, tomou mais alguns goles de água do córrego e observou o sol subir no horizonte, somente então deixou que a fogueira se apaga-se por completo, espalhando os gravetos pelo chão, mais uma olhada ao redor e deu os primeiros passos, colocou a mão no peito e sentiu por baixo de sua camisa o colar, deixou ali e a caminhada continuou, havia muitas folhagens de modo que ele as tinha que ir retirando do caminho conforme ia passando por elas, seguiu assim por algum tempo até encontrar uma pequena trilha entre as arvores “existe um caminho, e se existe um caminho deve levar a algum lugar” pensou consigo mesmo, e por aquele caminho começou a seguir, mesmo sem saber onde ia dar, no entanto sabia que a maioria das jornadas começava daquela maneira, e se havia algum lugar,  então ele deveria achar.
A jornada começou, ao ser dado o primeiro passo pode ser tarde demais para voltar, mas também para onde voltar? O certo parecia seguir em frente, foi meio cambaleante no começo até que a mente pareceu começar a retornar para o seu devido lugar, começou a ignorar a dor do pequeno corte em sua cabeça e seguiu, caminhou por muito tempo naquela trilha ouvindo o som de poucas aves e outros animais que por ali passavam, vez ou outra cruzando seu caminho, um belo lugar, até que a trilha chegou a uma estrada um pouco mais larga, direita ou esquerda, pra quem não sabe qual caminho seguir qualquer um serve, seguiu a esquerda e assim foi, a estrada era bem pequena, não cabiam dois carros lado a lado, era coberta por arvores aqui e ali, mas os raios de sol estava cada vez mais alto, durante o caminho encontrou algumas plantas parecidas com amoreiras, venenosas ou não ele tinha fome, o que não mata apenas nos torna mais forte, comeu algumas, colheu outras e prosseguiu em sua caminhada, neste momento o sol já estava a pino e fazia muito calor, foi então que tirou sua camiseta e prender a cintura.
Continuou pelo seu caminho torto por mais algum tempo quando ouviu alguns gritos que não conseguiam distinguir daquela distância, mas se tinha gente podia ter ajuda ou não, quem sabe, seguiu com a prudência ou seria medo? Ainda assim foi, e quando começou a aproximar-se do que seja o que for que estava acontecendo decidiu seguir por fora da estrada em meio as arvores pé ante pé chegando o mais perto que podia do que acontecia, ficou escondido atrás de alguns arbustos e conseguiu ver o que acontecia, havia umas 10 pessoas ao redor de duas mulheres armadas com adagas, prendeu a respiração e ficou em silêncio tentando entender o que estava acontecendo.
-          Você teve todas as chances para escolher irmã, esta é a ultima venha para o lado que vai vencer – a voz da garota era autoritária embora ela aparentasse ser muito nova.
-          Escolher o lado que vai vencer? E se o lado que for vencer estiver errado querida irmã, já se questionou a respeito disso? – disse a outra garota, esta era loira e também aparentava ser nova, sua voz tinha um tom suave e parecia um tanto quanto enfraquecido.
-          Se esta é sua resposta final, então eu lamento, mas sua fraqueza significa sua morte – dizendo isso a outra garota desembainhou uma espada curta que trazia nas costas.
-          Que assim seja – disse a outra fechando os olhos e tirando da cintura um par de adagas.
O circulo foi aumentado e abrindo espaço para as duas garotas, Pedro começou a notar as características de ambas neste momento, a que usava espada tinhas cabelos longos e pretos como a noite mais escura, seus olhos também era negros e usava uma pintura facial, abaixo de seus olhos os deixando ainda mais negros, foi quando lamina tocou lamina e faíscas saíram pelo chão.
- Você é fraca irmã, sempre foi – foram as palavras da garota de cabelos negros, e não ouve resposta
A luta continuou a outra garota bloqueava os ataques com seu par de adagas, mas o alcance da espada era bem maior, de maneira que os golpes desta eram mais efetivos e vez ou outra faziam um corte na outra garota, que tinhas os cabelos curtos enrolados em um coque na altura da nuca era loira com alguns detalhes vermelhos aqui e ali, naquele momento tinha levado um golpe que lhe cortou a perna espirrando sangue para o chão, caiu sobre um joelho olhos fixos no inimigo que segurava sua espada acima da cabeça pronta para o próximo golpe que foi parado a tempo com as adagas cruzadas, e foi ali que uma das adagas voou para longe, a batalha parecia estar perto de um fim, Pedro não tirava os olhos da garota em um joelho no momento em que ela levou um golpe no peito e voou para o chão.
A outra andou lentamente em direção a adaga perdida e a pegou, enquanto a outra tentava levantar-se, em um ato de coragem olhou novamente para a inimiga que esta de costas para ela, e neste momento ela lançou a adaga atingindo a garota loira na barriga, pouco abaixo do peito, o golpe perfurou couro e carne e ficou enterrada dentro dela. A garota simplesmente caiu no chão cuspindo sangue.
- vamos logo, acabe com isso – gritou em valentia.
A outra garota e embainhou a espada em suas costas tirou os cabelos dos olhos e disse “morra ai, lentamente como conseqüência de suas escolhas, tragam os cavalos”, os demais espectadores foram buscar suas montarias e rapidamente estavam todos prontos para partir, deixando ali a pobre menina agonizando em seu próprio sangue. Partiram a um galope fraco que foi se tornando mais forte, Pedro só teve coragem de sair de seu esconderijo quando não ouviu mais os sons dos cavalos.
Pedro olhou para todos os lados e pareciam estar sozinhos, só então foi em direção a garota colocando a cabeça dela em seu colo e acariciando seus cabelos, a adaga tinha perfurado bem fundo, mas decidiu que seria melhor não retira-la, os olhos da garota se abriram, de um azul profundo encarando Pedro e uma voz fraca saiu de sua garganta junto com um pouco de sangue “eu sabia que seu espírito me encontraria, em qualquer um dos mundos, termina aqui minha luta”.
Pedro só conseguiu pensar em “não, não vá fique comigo”  mas ao invés disso apenas disse:
-          fique firme nós vamos encontrar ajuda – e a pegou em seu colo.
mas não sabia em que direção seguir, com toda certeza não poderia ser em direção de para onde os cavalos foram, o outro caminho ele já tinha percorrido e parecia não ter nada, ainda assim colocou sua camiseta em volta da cintura da garota tentando conter o sangramento, ela ainda respirava, fraco mais respirava, começou então a caminhas novamente, o mais rápido que podia, não sabia quanto tempo tinha, e a qualquer momento ela poderia para de respirar, Pedro não sabia o que fazer.
A garota dizia palavras que não condiziam com nada com que ele conhecia ou teria escutado antes, eram apenas delírio, o calor de sua pelo começava a diminuir ele sentia isso e cada vez mais a respiração enfraquecia, mas ele continuou a andar sem diminuir o ritmo enquanto sua cabeça voltou a doer, neste momento ouviu algo se movendo na floresta, continuou a passos largos, a garota quase não pesava em seus braços, ouviu alguém sussurrar algo e sem pensar gritou.
- Ela precisa de ajuda, Socorro – ficou algum tempo sem resposta até que saíram três pessoas do meio das arvores, eles eram baixos e traziam machados na cintura, havia uma garota entre eles e Pedro não entendia nada do que eles falavam, até que a garota se aproximou.
- Quem é ela e o que ouve?
- Eu não sei, ouve uma luta, pelo que entendi era a Irma dela.
- deixe-me ver.
- E a Amanda, o inimigo esta próximo.
E todos tiraram seus machados da cintura e ficaram a espreita, circulando Pedro que ficou inerte a ameaça.
- Não eles foram na outra direção – reuniu forças pra dizer
- E como vamos saber se você não é um deles? – a garota parecia ser a líder.
- Eu? Eu nem sei o que esta acontecendo, eu nem a conheço, por favor nos ajude – ele quase implorou.
Novamente palavras que ele não entendia mas logo a garota encerrou a discussão e disse:
-          Não recusaremos ajuda, mas se isso for uma armadilha... você morre – aquela ameaça gelou o sangue de Pedro – Siga-nos ela falou entrando para dentro da floresta novamente.
Pedro apertou o passo para segui-los e nem tem noção de por quanto tempo andaram, o que pareceu ser uma eternidade, até chegarem ao que parecia ser um pequeno vilarejo, as portas se abriram e eles entraram as pressas, a mulher gritou por um curandeiro e logo eles estavam dentro de uma cabana, Pedro colocou a garota em uma cama improvisada e jogou-se exausto em um canto qualquer enquanto um homem velho de barbas brancas analisava a garota, removeu lentamente a camisa que Pedro enrolara em torno da adaga, e rasgou a couraça que a garota usava, revelando a gravidade da situação, o velho deu algumas ordens que ele não entendera e logo havia uma bacia com água, algumas plantas em  cima de uma mesa e uma faca esquentando até ficar em brasa, e dizendo algumas coisas inaudíveis o homem colocou um liquido espesso na garganta da garota, Pedro ainda conseguia ver que ela respirava, o velho de uma só vez retirou a adaga e limpou o ferimento com água quente, então com um pano branco pareceu mexer dentro do corte, e então olhou para Pedro.
-          Ela esta muito fraca, mas vai viver – a voz do velho era rouca e sabia, deixando Pedro um pouco mais tranqüilo.
O velho limpou bem a ferida e com uma agulha em brasa deu alguns pontos no corte, então outro garoto bem mais jovem que parecia ser um aprendiz trouxe a faca que estava no fogo, e com aquela faca o velho pressionou o corte da garota que soltou um grito extremamente alto, estremeceu todo o corpo e desfaleceu novamente. Só então o velho começou a cuidar dos outros ferimentos, no momento em que Pedro foi tirado da cabana e levado a uma outra, bem maior, no centro dela havia um buraco no chão de onde ardia um fogo, havia uma abertura acima para que a fumaça saísse, e para trás disso o que parecia ser um palanque com uma cadeira só.
- Espere aqui! – Foi a ordem recebida, e ali ele permaneceu sozinho, sem saber o que iria acontecer tão pouco o que esperar.

Capitulo 5


A noite começou a cair repentinamente e Pedro notou certa diferença no tempo em que o dia durava ali, a noite parecia ser mais longa que o dia, olhou pela janela da sala onde estava o sol se escondendo atrás das arvores, o vilarejo ficava no meio de muitas arvores, e em volta da casa onde ele estava havia muitas outras, bem simples feitas de madeira bruta e cobertas por folhas que Pedro não soube distinguir do que era, já era noite alta quando alguém veio falar com ele.

- Pelo que vejo você esta bem – o homem o analisou um pouco em silêncio para depois completar – Sua amigas ficara bem, ela é forte, vou enviar alguém com alimentos e água pra ti, pode dormir naquele quarto ali – disse o homem apontando para outra sala – o mestre da aldeia deseja falar contigo amanha na primeira luz da manha!

- Obrigado – foi tudo que Pedro conseguiu dizer após tudo o que ocorrera.

De fato ele estava muito cansado e sem entender de muita coisa, no momento em que alguém entrou um pouco de comida e água, mas sem dar atenção a ele, apenas deixou em cima de uma mesa e partiu, Pedro comeu de bom grado e a comida estava realmente boa, após isso jogou um pouco de água no rosto e desabou de cansaço, o sono veio logo em sem sonhos, sem pesadelos também o que empatava as coisas. Alguém veio acordá-lo antes do nascer do sol.

- Levante-se e vá até o centro da aldeia.

Aquilo pareceu a Pedro uma ordem bem clara, e foi assim que fez ainda bocejando e sentindo a roupa grudando em seu corpo, a noite estava quente, tomou um gole de água e saiu para o meio do vilarejo, onde havia uma estaca bem no meio e um homem vestido todo de preto e com um capuz que tapava totalmente sua face, mas os olhos brilhavam na escuridão, havia uma fogueira que pelo visto tinha ardido em chamas pela noite toda, no momento em que os raios de sol começaram a aparecer por entre as arvores o homem tomou a palavra.

- Reunimos mais uma vez aqui, irmãos e irmãs – as pessoas prestavam atenção e com muita devoção para o homem de preto – para reverenciar aquele que nos traz calor e nos livra dos perigos da noite, o astro mor: todos saúdem o grande sol que nos da à dádiva da vida mais uma vez.

- A dádiva da vida mais uma vez – todos repetiram ao mesmo tempo curvando suas cabeças e logo em seguida ouve uma salva de palmas enquanto alguns trocavam abraços de bom dia.

- O mestre ira falar com você agora – alguém disse a Pedro e apontou para o homem que recebia abraços e apertos de mão em meio a todos, o homem de preto.

Pedro aproximou-se do homem com reverencia, ao que parecia ele mandava em tudo por ali, ficou olhando distante por algum tempo até ver os últimos que o saldavam saindo para os afazeres do dia, os raios de sol já tocavam o centro do que Pedro considerou ser uma praça para reunir as pessoas, a fogueira começava a apagar.

- e tu quem és forasteiro – disse o homem enquanto abaixava o capuz, revelando um homem calvo e de pele escura, olhos firmes e uma barba rala cobria seu rosto – de onde vens a para onde vai? – completou o homem.

- Eu me chamo Pedro, e não sei de onde vim, digo sei, mas não sei como vim parar aqui, nem pra onde vou – disse e abaixou a cabeça tentando colocar as idéias no lugar.

- para quem esta perdido qualquer caminho é bem vindo - o homem disse com voz aguda – mas como mestre desta aldeia pacifica não posso deixar que traga a guerra para nós, eu torço para que não tenhamos feito isso ajudando sua amiga Amanda, nós nunca recusamos ajuda, mas não participamos das guerras do mundo lá fora.

- Partirei assim que puder.

- Ficara mais hoje, tivemos mensagem do oráculo ontem, ele quer te ver e falar contigo, não sei como ele soube que estava aqui, e não importa, ele deve chegar ao entardecer, enquanto isso você esta livre para andar por ai, mas fique longe de problemas.

- Obrigado – Pedro disse cabisbaixo e voltou para a casa onde passara a noite.

Ao adentrar pela porta viu uma mesa posta com o desjejum da manha, e 2 pessoas sentadas ali uma terceira cadeira vazia, onde ele foi convidado a sentar-se para fazer o desjejum, os dois que estavam sentados eram os donos do casebre e apresentaram-se, porem Pedro não entendeu os nomes e ficou em silêncio, após o desjejum voltou para a cama sentia-se muito cansado, isso foi tudo por aquela manha.

Capitulo 6

Já começava a entardecer quando Pedro notou uma movimentação no vilarejo, levantou e olhou pela janela o forasteiro que chega montado em um cavalo negro como a noite com a crina prateada, trazia consigo mais dois cavalos negros com porte majestoso, o forasteiro desmontou de imediato enquanto aquele que Pedro considerou por ser o mestre do vilarejo saiu ao seu encontro, naquele momento começava a chuviscar.

Devia ser o oráculo, não pareceu grande coisa aos olhos de Pedro, vestia uma couraça verde brilhante e o capuz lhe cobria totalmente a face, somente quando ele abaixou o capuz e abraçou o mestre Pedro pode ver melhor os traços, ele era alto de cabelos longos presos na nunca loiros, as orelhas eram estranhas, pontudas como a dos elfos das lendas nórdicas que Pedro conhecia, na cintura presa à tira colo trazia uma espada, e nas costas um machado pequeno. Naquele momento o mestre apontou para o casebre onde Pedro estava, bem em direção à janela, não sabe por que mais se abaixou por impulso, e ao olhar novamente ambos estava indo em direção ao casebre enquanto um menino puxava os cavalos para outro lugar, eles traziam uma bolsa com eles, Pedro sentou-se e aguardou.

Eles adentraram pela porta, e então ele Pode ver de perto o oráculo, ele estava o mais alto entre eles, olhos verdes e profundos, parecia que enxergavam mais do que revelavam, Pedro o admirou por algum tempo até que ele quebrou o silêncio.

- Eu sei que você deve ter muitas perguntas – começou ele com um tom de voz firme e suave – vamos começar com o porquê você esta aqui, foi profetizado quem em tempos de guerra neste mundo um guerreiro de outra dimensão viria intervir a favor do lado certo...

- Mas deve ter algum engano, eu não sou nenhum guerreiro!- Pedro disse de sobressalto.

- Não me interrompa jovem, eu sei do que estou dizendo, eu profetizei sua vinda – e também foi profetizado que você duvidaria disso tudo... – Começou a coçar uma barba bem aparada em seu queixo.

- Mas se eu não sou daqui, como faço pra voltar embora?

- Calma, você é afobado como todo jovem, apenas o tempo trará a sabedoria que você precisa, amanha, pela manha Amanda já estará melhor e vocês devem partir, ela sabe pra onde ir – disse ele virando para o mestre da aldeia – Obrigado por sua ajuda nisso, agora deixe por conta nossa. E vejamos no que vai dar.

- mas esta tudo errado... – Pedro iria continuar mais foi interrompido mais uma vez.

- Já chega de duvidas, você terá as respostas no tempo certo, agora aceite isso.

Tirou do embrulho que trazia a tiracolo e começou a desenrolar uma espada, logo em seguida a tirou da bainha e mostrou a lamina a Pedro.

- Esta é a "exterminadora de demônios" deve ser brandida sabiamente, e existem muitos encantamentos presos a ela que poderão lhe auxiliar, use-a com sabedoria e cuidado, e não perca – Depositou a mesma nas mãos de Pedro que acidentalmente cortou a ponta do dedo na lamina, estava muito bem afiada – Deixo também os dois cavalos que eu trouxe, o "trovão negro" e o "viajante veloz". Devem partir amanha sem falta, este povo é pacifico e não se envolve em guerra alguma.

-Mais...

- Nada de mais, abrace seu destino – fez uma breve pausa – agora descanse, tenho certeza que nos reencontraremos – disso isso saiu para a escuridão da noite deixando Pedro perdido em seus pensamentos.

Como Amanda poderia cavalgar pela manha se os ferimentos dela pareciam ser tão severos? O que esperava por ele naquele caminho que nem ele conhecia, quando haveria de ter as respostas prometidas? Era muita coisa a se pensar.

Nesta noite Pedro dormiu pouco, a mente carregada de perguntas, mas resposta não encontrava nenhuma, quando finalmente dormiu, já era quase hora de acordar.


Capitulo 7

Levantou lentamente ainda meio sonolento, e tomou um gole de água, naquele momento o pequeno povoado começava a se reunir em volta da praça central onde como na manha passada ardia uma fogueira, olhou pela janela e notou Amanda em meio a eles, nem parecia à garota machucada a qual ele achou que iria morrer, decidiu sair para junto do povo, no meio deles estava o mesmo ancião do outro dia, com o capuz cobrindo totalmente seus olhos que estavam fixos nas chamas, Pedro chegou lentamente ao lado de Amanda.

- tempo de recuperação rápida esta sua – Começou um diálogo sem saber o que esperar dela, ela vestia uma camisa branca e por cima desta outra feita de couro, e quando os olhos dela de um azul profundo se cruzaram com os deles foi como se o tempo parasse.

- Cura élfica é poderosa – Ela disse com o mais belo sorriso que Pedro já vira na vida

Naquele momento o ancião tomou a palavra enquanto os raios do sol começavam a surgir por entre as folhas ao redor do centro do vilarejo "Grande astro maior, o deus que renova nossas esperanças todos os dias, trazei proteção e paz para teus filhos, que nunca nos falte a água pra beber e o ar pra respirar, que o alimento venha em fartura são nossos pedidos, e o agradecimento pela sua proteção oh grande astro" "Oh grande astro nos abençoe" respondeu a multidão em uma só voz.

- você deve ter muitas perguntas, mas não agora – Amanda quebrou o silêncio – mas agora não é hora, eu estou faminta, e você precisa de um banho urgente... Vou pedir para que preparem, nós nos falamos mais tarde?

- Certamente – foi a resposta de Pedro enquanto a linda garota parecia desfilar na direção de uma outra mulher, apontou para Pedro e disse algumas coisas que ele não pode entender, até que a moça veio até ele e pediu para que ele a acompanhasse.

E em silêncio ele a seguiu enquanto entravam em uma trilha pela floresta, naquele povoado todos eram tão reservados, Pedro não quebrou o silêncio, andaram por um tempo até que a garota falou:

- É aqui, ali esta a cachoeira a água é quente, se banhe e logo eu trago as roupas que o oráculo deixou pra você.

- O oráculo é um elfo?

- O que ele é ou deixa dizer não cabe a mim responder, banhe-se, você esta fedendo muito, passe o barro do fundo no corpo que tira o mal cheiro, eu já volto.

E ela se foi deixando outra vez Pedro sozinho, tão acostumado como ele já estava com a solidão, esta nunca o abandonava, tirou as roupas por completo e entrou devagar na água, por incrível que pareça a água estava realmente quente, uma benção ele pensou, mergulhou até o peito deixando apenas o pescoço pra fora e se deixou relaxar.

Molhou os cabelos que estavam embaraçados, e começou a esfregar o corpo, e como estava sujo, mas a respeito do barro ficou receoso, mas ao pegar um pouco nas mãos e cheirar, viu que o odor era realmente agradável, e desta forma começou a espalhar por todo o corpo, havia algumas pedrinhas no meio a lama que pareciam esfolhear a pele, Pedro passou ate pelo rosto e nos cabelos que aos poucos voltaram a ficar lisos, desfazendo os nós aos poucos, ficou um bom tempo apreciando a água quente e tirando a lama do corpo quando a garota voltou com uma toalha pra ele se secar e uma nova roupa como ela havia dito, e junto com ela estava a espada que ganhara de presente do oráculo, que havia partido sem ao menos dizer adeus, e sem responder pergunta alguma.

Deixou as roupas sobre uma pedra e disse – depressa, você é esperado para o desjejum – e novamente ela o deixou sozinho.

Pedro aproveitou mais um momento dentro daquela água deliciosas antes de sair para o secar-se, realmente sua pelo ficara cheirosa, começou a vestir as calças que lhe foram dadas, ficaram um pouco apertadas, mas logo pareceram aderir ao corpo, foi estranha a sensação, colocou uma camisa de manga comprida e por cima dela um colete de couro, tinha um símbolo estranho em forma de 8 no colete que Pedro não soube o que significava, tinha uma capa, a qual ele não vestiu, colocou o cinto da espada na cintura e voltou em direção ao povoado, era estranho sentir a espada roçando em suas pernas conforme caminhava, mas logo se acostumaria com aquilo também. Dirigiu-se diretamente para o casebre que o tinha servido para dormir naquelas dias, encontrou Amanda terminando o desjejum.

- Coma, eu vou preparar os cavalos – somente disse aquilo e partiu

Pedro começou a ficar nervoso com aquela falta de respostas, e as atitudes de Amanda não estavam ajudando, ainda assim sentou-se a mesa e comeu algo, estava sem fome naquela manha, logo em seguida foi ao encontro de Amanda que estava como prometido no estábulo os cavalos prontos para a partida.

- Por que temos que partir? Eu nem sei o que estou fazendo aqui.

- Tudo ao seu tempo, este povoado é pacifico e não podemos trazer a guerra até eles, você esta pronto?

- estou, seja lá o que você quer dizer por pronto – a resposta foi mais áspera do que ele prende dera dizer.

- Vista a capa e coloque o capuz – ela já estava com o capuz – o seu cavalo é aquele, espero que saiba montar.

Fazia muito tempo que Pedro não cavalgava, e foi um pouco difícil subir na montaria, mas assim que conseguiu deixaram o estábulo e pararam no centro da praça onde Amanda agradeceu ao mestre da cidade pela estadia e este por sua vez apontou o caminho da trilha que deveriam seguir, Amanda incitou o cavalo e foi a frente, e Pedro pra variar sem saber muito que fazer apenas a seguiu a trote leve.

Quando já estavam há algum tempo a trote pela trilha Amanda quebrou o silêncio:

- então você é o salvador predito?

- Salvador? Eu nem mesmo sei quem sou aqui

Ela incitou a montaria a ir mais rápido e Pedro não teve opção a não seguir.

- vamos deixar este território logo, enquanto estivermos aqui eles estarão em perigo, quando chegarmos até a base da resistência você terá algumas das respostas.

Pedro refletiu naquelas palavras por um instante, e continuou a trote rápido seguindo a bela garota que parecia ser de poucas palavras.

Capitulo 8

Cavalgaram incessante por toda a manhã e pelo começo da tarde também, em algumas ocasiões Amanda cobria totalmente a face usando o capuz, e Pedro sem saber por que fazia o mesmo, já perto do entardecer Pedro viu no horizonte um vale cercado por montanhas.

- Estamos chegando – Disse Amanda com uma doce voz.

- Chegando onde? – Respondeu Pedro perdido.

- Na resistência é claro - A menina pareceu refletir por um instante – Espero que estejamos do lado certo desta batalha, por que minha irmã esta do outro lado – naquele momento ela baixou a fronte com algum pesar.

- Aquela que tentou matar você? – Pedro foi direto ao ponto.

- Sim, ela mesma, seu nome é Larissa e ela é um ano mais velha que eu – Silencio por alguns instantes – nossas leis dizem que eu deveria seguir os passos delas, mas matar inocentes não me pareceu certo.

- em nenhum lugar isso é certo – Pedro tentou continuar o assunto.

- Mas o Oráculo previu que eu seria salva pelo ser perdido de outra dimensão - ela olhou para ele e sorriu aquele riso lindo capaz de derrubar impérios – Vamos ver até quando o oráculo estava certo.

Já anoitecia quando quando chegaram ao vale, o caminho era estreito e passava pelo meio de dois montes íngremes, com uma casa sentinela em cima de cada uma, mas ninguém disse nada, ao que parecia estava abandonado, seguiram a trote lento por mais alguns momentos quando foram interrompidos por uma voz grave e tom firme "quem são, de onde vem e para onde vão".

- Eu sou Amanda, e este é Pedro, aquele que foi predito pelo oráculo – ficou em silencio por um segundo – Viemos de um dos poucos lugares ainda não tocados pela guerra, e viemos para tomar parte dela - Concluiu

- Logo veremos se o que dizem é verdade, o oráculo que esta aqui reunido com os anciões e com o sábio, continuem sempre em frente e após a fortificação em pedra deixem os cavalos, nossos meninos tomarão conta deles.

O homem em nenhum momento mostrou o rosto, vestia uma armadura de prata polida e com o elmo abaixado, a mão direita sempre descansada dentro da espada, e Pedro com um pouco de medo, nem sabia onde estava se metendo. Ainda assim incitou o cavalo a frente e foram ambos os lado a lado em trote leve, os dois cavalos eram negros, porém o que Amanda era uma égua e tinha a crina dourada, enquanto o cavalo de Pedro era inteiro negro e castrado, pareciam fortes os presentes do oráculo, Pedro só não sabia onde como usaria a espada sendo que nunca tivera treinamento, tão pouco necessidade para isso.

Chegando a fortificação de pedra como foi dito ouviram uma voz grave "abram os portões" e logo os portões começaram a se abrir lentamente, a primeira a entrar foi Amanda, Pedro seguiu em seguida, como fora dito havia um garoto com não mais de 15 anos esperando para levar as montarias pelas rédeas.

- Eles estão esperando por vocês dentro da caverna dos sábios, é logo ali depois daquele casebre a esquerda – disse o menino e com um sorriso se afastou com os cavalos.

Pedro ainda não havia se acostumado com a espada batendo em suas pernas enquanto caminhava tão pouco com a capa que tinha para si, mas o capuz negro que cobria quase que totalmente o rosto fora o que mais apreciara, dobraram do casebre indicado pelo menino dobraram a esquerda e o que os aguardava era uma subida íngreme ladrilhada por pedras de todas as cores, a parecia levar ao topo de uma montanha, naquele momento Pedro torceu para que não precisasse subir aquilo por inteiro, Amanda não soltara mais nenhuma palavra, mas Pedro já estava acostumado com o silêncio, mas naquele breve momento sentiu falta de Clara e Cláudio, seus melhores amigos, eles com certeza saberiam o que fazer, subiu pelo caminho pensando nos dois e com os olhos no chão, andaram por um bom tempo até chegarem a caverna.

- Finalmente chegou o garoto de outra dimensão – Disse Nosrevelc.

- há muitas coisas a serem explicadas e temo que o tempo seja curto demais – disse o Oráculo - Desta vez estava vestido com uma vestimenta azul claro, que o cobria da cabeça aos pés, e trazia sobre a cabeça uma coroa de ouro pequena que parecia apenas servir para prender seus longos cabelos, e novamente Pedro notou as orelhas pontiagudas.

Os 3 anciões apenas olharam e nada disseram.

- Vocês tiveram uma longa jornada – Disse Nosrevelc olhando para ambos e os guiou por uma entrada bem apertada aonde chegaram a dois cômodos que pareciam ser quartos – Eu mandarei alguém trazer comida e água, tenho certeza que esta com muitas duvidas em sua cabeça Amanda, e você também meu caro Pedro, mas eu preciso continuar com o oráculo e com os anciões peça manha após o desjejum vocês vão estar na reunião, fiquem bem.

Amanda não disse nada para Pedro, apenas entrou para seu cômodo, ele por sua vez deixou como estava e entrou na sala que havia sido destinada a ele, havia no teto algo parecido com um abajur que fornecia luz para o ambiente, mas Pedro não soube explicar como funcionava, uma cama bastante grande e confortável, não demorou muito até que aparece uma bela garota com o jantar, Pedro agradeceu, comeu e deitou-se o sono logo veio, ele estava bem mais cansado do que parecia estar.



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